quarta-feira, 16 de maio de 2012

Texas executou homem inocente em 1989, segundo pesquisa

Era a imagem viva do assassino, tinha o mesmo primeiro nome que ele e estava perto do local do crime na hora fatídica, mas era inocente: Carlos DeLuna pagou um enorme preço e foi executado de forma equivocada no Texas em 1989, segundo uma pesquisa divulgada na terça-feira.

Inclusive "todos os parentes de ambos os Carlos os confundiram" e DeLuna foi condenado à pena de morte e executado sozinho com base em relatos de testemunhas, apesar de alguns sinais de que não era culpado, disse o professor de Direito James Liebman.

Liebman e cinco de seus estudantes da Faculdade de Direito de Columbia passaram quase cinco anos estudando minuciosamente os detalhes de um caso que o professor classifica de "emblemático" do fracasso do sistema legal.

DeLuna, de 27 anos, foi executado após "uma investigação muito incompleta. Não há dúvidas de que a investigação foi um fracasso", disse Liebman.

Os autores da pesquisa encontraram "muitos erros, provas e oportunidades perdidas que permitiram às autoridades processar Carlos DeLuna por homicídio, apesar da evidência não apenas de que não havia cometido o crime, mas que outro homem, Carlos Hernandez, o havia feito", afirma o relatório de 780 páginas.

Intitulada "Los Tocayos Carlos: Anatomy of a Wrongful Execution", a pesquisa aborda os fatos em torno do assassinato em fevereiro de 1983 de Wanda Lopez, uma mãe solteira que foi esfaqueada no posto de gasolina onde trabalhava em uma tranquila esquina da cidade litorânea de Corpus Christi, no Texas.

"Tudo saiu errado no caso", disse Liebman.

Nesta noite, Lopez chamou duas vezes a polícia para pedir que a protegesse de um indivíduo com uma navalha.

"Poderiam tê-la salvado; disseram 'efetuamos a prisão imediatamente' para superar a vergonha", disse Liebman.

Quarenta minutos após o crime, Carlos DeLuna foi preso não muito longe do posto de gasolina.

Foi identificado por uma única testemunha que viu um homem hispânico sair correndo do posto de gasolina. Mas DeLuna tinha se barbeado há pouco tempo e vestia uma camisa branca - diferentemente do assassino, que, segundo outra testemunha, tinha bigode e vestia uma camisa de flanela cinza.

A prisão ocorreu apesar dos testemunhos contraditórios: o assassino havia sido visto fugindo em direção ao norte, enquanto DeLuna foi preso na direção leste.

"Eu não fiz isso, mas sei quem fez", disse DeLuna naquele momento, ao afirmar que tinha visto Carlos Hernandez entrar no posto de gasolina.

DeLuna disse que fugiu da polícia porque estava em liberdade condicional e estava bebendo.

Hernandez, conhecido por utilizar navalhas em seus ataques, foi preso depois por assassinar uma mulher com o mesmo instrumento. Mas no julgamento o promotor disse ao júri que Hernandez era apenas "fantasma" na imaginação de DeLuna.

Inclusive o defensor público de DeLuna disse que era provável que Carlos Hernandez nunca tivesse existido.

No entanto, em 1986 um jornal local publicou uma foto de Hernandez em um artigo sobre o caso de DeLuna, disse Liebman.

Após um julgamento precipitado, DeLuna foi executado por injeção letal em 1989.

Até o dia em que morreu na prisão por cirrose, Hernandez admitiu em várias ocasiões que tinha sido o assassino de Wanda Lopez, disse Liebman.

"Infelizmente, as falhas do sistema que injustamente condenou e executou DeLuna - testemunhos incorretos, péssima representação legal e falta de ética fiscal - seguem hoje enviando à morte homens inocentes", indica o comunicado que acompanha o relatório.

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