segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ninguém é substituível

Autor:João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br

Em um e-mail recebido de uma leitora, havia uma mensagem com o título 'Ninguém é substituível', que me chamou a atenção por ser exatamente o oposto do que sempre ouvimos ou dizemos.

Em uma reunião de diretoria de uma empresa o presidente havia dito, em tom ameaçador, o tradicional -ninguém é insubstituível-, causando pânico em todos os dirigentes presentes, mas um deles se levantou e, pedindo a palavra, perguntou: e Beethoven? Quem o substituiu?

Continuando, aquele diretor disse: As grandes empresas como a nossa sempre falam em descobrir e reter talentos mas no fundo continuam tratando seus profissionais como peças dentro da organização, que quando uma sai, quebra ou falha, é só substituí-la para que toda a engrenagem continue funcionando normalmente, e muitas vezes até melhor, por agora contar com peças novas.

Dando ainda mais exemplos, perguntou quem substituíra Ayrton Senna, Frank Sinatra, Elvis Presley, Gandhi, Santos Dumont, Thomas Edson, Tom Jobim, Picasso, Einstein..., e após uma pausa disse que todos os citados haviam brilhado fazendo o que gostavam e sabiam fazer bem, marcando com isso seu nome na história e, portanto, eram sim insubstituíveis.

Lembrou ainda que ninguém se preocupava, ou mesmo se importava, em saber se Beethoven era surdo, Picasso era instável, Caymmi preguiçoso, Kennedy egocêntrico ou Elvis paranóico , mas sim de poder apreciar o resultado de suas obras talentosas, fossem sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis ou melodias inesquecíveis.

"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo..., mas posso fazer alguma coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso. Algumas pessoas me amarão, e outras me odiarão pelo que sou, mas assim é a vida", disse o jovem, sugerindo que todos deveríamos nos acostumar a isso.

Todo esse comentário foi feito para, discordando do presidente da empresa, mostrar a ele que cada um dos presentes podia sim ter seus defeitos, mas também possuía qualidades e que estas eram as que deveriam ser melhor aproveitadas pela empresa.

Hoje, já bem diferente do jovem que pensava tudo saber, reconheço ser uma pessoa com infinitos defeitos, milhares que já descobri e outros milhares que ainda não consigo ver, mas que provavelmente outros enxergam, e algum dia também enxergarei.

A vida vai nos mostrando que sempre poderemos aprender algo mais, que sabemos sempre pouco, e vai nos dando também a humildade necessária para, compreendendo isso, buscarmos um crescimento dentro da engrenagem geral.

Essa engrenagem não se movimenta só, precisa da partida, e depois desse início, cada um vira um pouco e com sua rotação gira o vizinho, que também ajudará na virada de outro e assim por diante. Dessa forma o homem inventou a lâmpada e chegou ao que hoje possuímos, em menos de 150 anos.

Para isso foi necessária a existência de milhares de homens capazes de criar, desde cabos elétricos, automóveis, aviões, poesias, computadores, vacinas, equipamentos médicos de última geração, mas também daqueles responsáveis pela limpeza das fábricas e das salas cirúrgicas, cada um fazendo o que sabia, e o que podia fazer.

Devemos ter consciência de nossas qualidades e importância, nos orgulhar de fazer parte da engrenagem que permite aos criadores criar, para depois usufruirmos dessa criação e com leituras, observações e escritos, divulgá-la para que se alastre e se perpetue.

Um comentário:

Sonia disse...

Todo SER vivo é único! insubstituivel!
A conquista da montanha de cada SER é arquetípica - Mito de Sísifo!