segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

As redes sociais e o sertão brasileiro

A vida realmente nos proporciona uma quantidade inimaginável de prazeres, dos mais variados tipos, e, recentemente, estou sentindo mais um que chega por um meio para mim novo e pouco explorado, as chamadas redes sociais na internet.

Meus filhos sempre me chamaram pra entrar em seus Orkut, Facebook, e todas as variáveis destes, que os mais jovens usam, mas sempre me recusei. Dizia a eles que também não deveriam usar, preocupado com a exposição pública de detalhes de nossa vida, como telefone, e-mail, filiação, filhos, e tantas outras informações que são divulgadas que, em mão erradas, poderiam causar enormes dissabores.

Por mais que ouvisse comentários sobre alguém que viu ou soube de algo, ou de alguém, nesse tipo de contato, eu nunca me dispunha a usar. Criei uma espécie de barreira contra isso, de tal modo que nem dava oportunidade para a continuidade do assunto, logo dizendo que não usava e pronto.

Por outro lado, sempre gostei de estar atualizado com as novas tecnologias, e aquilo me incomodava. Continuava preocupado com a exposição e os consequentes riscos à segurança de meus filhos e netos, mas percebia que estava ficando de fora de muita coisa ocorrendo nesse mundo.

O conflito entre minhas próprias opiniões e a ignorância que acabei sentindo, - apesar de usar outras áreas de informática e internet já há muitos anos, principalmente na área profissional, exatamente a que me ensinou essa preocupação com os crimes virtuais -, me levou a fazer a inscrição em um desses programas, me expor, e começar a utilizar aquele que, para mim, era o mais novo veículo de comunicação.

Quantas surpresas agradáveis passaram a ocorrer depois de haver tomado essa iniciativa. Pessoas que fizeram parte de algum momento de minha vida, ou que ainda fazem, seus filhos ou netos apareceram às centenas, me adicionando como "amigo", dando notícias, e mostrando fotos atuais ou mesmo de nosso passado.

Apareceu um amigo que já não via, segundo ele, há quarenta e cinco anos. Eu havia me "casado" em uma festa junina com sua irmã, quando eu tinha, imaginem, aproximadamente dez anos de idade. Deu notícias suas, de seus pais, de sua irmã, de sua profissão, seus filhos e sobrinhos. Em segundos acabei conhecendo, mesmo que superficialmente, diversas histórias das vidas deles, e os fatos mais importantes ocorridos durante o período desse afastamento.

É indescritível a sensação de, mesmo que virtualmente, reencontrar pessoas que fizeram parte de nosso passado, nossa história, ver suas fotos, de seus descendentes, saber no que se transformaram, o que fazem, onde e com quem vivem, e todas as outras coisas que normalmente temos curiosidade de saber sobre os amigos.

Com esse sentimento comecei a pensar na imensurável quantidade de possibilidades que isso pode proporcionar, e logo já estava pensando nos nossos irmãos brasileiros menos favorecidos, que abandonam tudo, inclusive suas famílias, e partem para os grandes centros do país, em busca de melhores oportunidades, de trabalho, e de uma vida mais digna, o que na maioria das vezes não ocorre, principalmente por não possuírem qualificação para um mercado cada vez mais exigente.

Tentei imaginar, mesmo sabendo ser muito difícil, o que sente uma pessoa assim, que abandonou suas origens, na grande maioria das vezes não por vontade própria, mas por necessidade, para inclusive deixar de passar fome, e com isso abandona tudo e todos, e normalmente nunca mais os vê ou sabe sobre destes.

As redes sociais de comunicação precisam ser imediatamente disponibilizadas, gratuitamente, nos mais remotos cantos de nosso país, assim como o programa "Luz para todos", que levou ou está levando energia elétrica até para as mais distantes propriedades rurais do interior do país. Para que todos, indistintamente, tenham acesso incondicional a elas, principalmente aqueles que, mesmo desqualificados, com sua mão de obra braçal, produzem a grande maioria das riquezas do país.

Autor:João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br

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