sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Crime Passional: Do amor ao ódio entre os casais

*Paulo César Ribeiro Martins

As pessoas se unem umas às outras para constituir família, planejando viverem da melhor forma possível, dentro de suas condições. No entanto, nem sempre isso acontece. Algumas pessoas não conseguem conviver com outras, devido ao fato de surgirem conflitos no que se refere à capacidade de se vincular afetivamente e suportar a frustração, o que, por consequência, torna a vida conjugal muito conflituosa.

As pessoas apresentam diferenças, cada uma com peculiaridades em sua personalidade, em outras palavras, o estado mental dos indivíduos funciona vinculado a vivências infantis, ao funcionamento do organismo e a momentos sócio-históricos. Assim, a essência de uma pessoa não se confunde com a das outras, as personalidades não se repetem, portanto, os critérios para a análise dos crimes passionais não podem ser os mesmos para todos, em função das diferentes patologias e das diferenças individuais.

A família dos dias atuais tem características próprias, destacando-se o livre arbítrio entre os cônjuges, podendo eles tomar decisões próprias sem que haja alguma forma de opressão. Ainda, sobressai o esforço do casal para o bem estar da família, primeiramente, constituindo um lar aconchegante e adequado para se viver, bem como, uma boa estrutura familiar que vise à educação dos filhos. Sendo que para cada relacionamento existe a criação de vínculos, sejam eles de amor, reconhecimento, conhecimento e ódio.

O vínculo de amor e o vínculo de ódio estão inteiramente ligados, tanto um como o outro podem proporcionar diferentes reações, tanto boas, quanto ruins. O amor pode ser bom quando é construtivo e ruim quando se torna obsessivo. Da mesma forma, o ódio, que, de maneira destrutiva, causa graus de violência e crueldade, bem como, de maneira positiva, quando se depara com a luta justa e sadia por seus direitos, mas sem esquecer e respeitar seus deveres e limites.

O ódio existe numa relação dialética com o amor. O ódio implica um envolvimento intenso com um objeto de amor, que, por algum tempo, foi profundamente necessitado. O ódio é, antes de tudo, ódio do objeto frustrante, mas ao mesmo tempo é também ódio do objeto amado e necessitado de quem se esperava amor e de quem a frustração foi inevitável. Em suas origens, o ódio é consequência da incapacidade de eliminar a frustração através da agressividade, e vai além desta, em um derradeiro esforço para eliminar o objeto.

Nesse sentido, justamente, quando o casal se depara com as diferenças é que se instaura a crise no relacionamento conjugal com o sentimento de amor traído ou não correspondido. Assim, os cônjuges passam a não mais colaborar um com o outro e vão se afastando. Quando há esse quadro de divergência e o casal não consegue mais suportar as diferenças e os conflitos, ocorre a separação, a qual acontece para colocar fim à relação amorosa. No entanto, quando um dos cônjuges não suporta a frustração, a relação pode tomar rumos desastrosos. Assim como destaca Perrone e Nannini, a violência se manifesta como um intercambio de agressões: tanto um como o outro reinvindicam seu status, força e poder. Ou seja, a partir da busca do status perdido, na tentativa de recuperar uma imagem que o agressor vem a achar que está denegrida, é que ocorrem, muitas vezes, os casos de homicídios passionais.

*Autor:Paulo César Ribeiro Martins
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP
Prof. da UEMS/FIPAR - Paranaíba

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