segunda-feira, 21 de junho de 2010

A representação dos dirigentes sindicais

Uma pessoa só pode realizar um trabalho gratuito, em caráter de exclusividade, pelo período que seus familiares levariam para consumir os mantimentos que já possuem, pois, depois de consumidos os mesmos, seria necessária a sua reposição, o que não ocorre sem dinheiro, e, como dizem os mais velhos, “quando a comida falta, até rato briga no armazém”.

Desenvolvo esse raciocínio por ser contrário ao trabalho realizado pelos dirigentes do sistema sindical brasileiro, onde se diz que os eleitos para os cargos de presidentes de sindicatos, federações e confederações, sejam rurais ou urbanas, patronais, de trabalhadores, ou de autônomos, trabalhariam “sem ônus” para a classe que representam. Por que se difundir essa ideia se isso não pode ser verdadeiro ou, no mínimo, não ser justo nem mesmo interessante para a classe representada?

Os produtores, os industriais, os comerciantes e os profissionais autônomos, normalmente, estão em seus escritórios, suas propriedades, fábricas ou lojas, trabalhando, produzindo, cuidando de seus próprios interesses. O mesmo ocorre com os trabalhadores, sejam os rurais ou os urbanos que, trabalhando, estão sustentando suas famílias. Em sua grande maioria, nenhum membro pertencente a um desses grupos dedica sequer uma hora de trabalho ao interesse coletivo. Quando possível, tanto o grupo dos patronais quanto dos laborais tira férias ou desfruta de momentos de lazer, mas nem nessa época se envolvem com o interesse coletivo.

A legislação brasileira é a mesma para todo tipo de representação classista, e, portanto, o mesmo ocorre com todos os sindicatos, sejam eles representantes dos membros do comércio, da indústria ou de profissionais liberais, como médicos, engenheiros, contadores, advogados, ou de qualquer outra classe, laboral, patronal ou autônoma.

Como podem, então, os membros filiados a um sindicato representativo de qualquer um desses grupos querer ou imaginar que encontrarão pessoas para, como dirigentes sindicais, seja através do sindicato do município, da federação no estado, ou ainda da confederação desse grupo, cuidar de seus interesses, representando-os diante dos poderes executivo, legislativo e judiciário, e que, para se dedicarem a isso, abandonem suas famílias e seus negócios, mesmo que temporariamente, e não sejam remunerados?

Se pensarmos com um mínimo de bom senso e sem paixões ideológicas, ninguém pode deixar de cuidar do seu próprio interesse para cuidar do coletivo e, ao mesmo tempo, não ser remunerado. Se isso ocorre, certamente essa pessoa possui algum outro interesse e, como estratégia para atingi-lo, utiliza o sistema sindical. Nesse caso, nunca será um bom representante, pois seu interesse principal será outro, e a classe estará, então, mal representada, como geralmente tem ocorrido na grande maioria dessas entidades.

Os dirigentes que nos representam devem sim ser remunerados, e bem, para que tenham interesse em representar-nos da melhor maneira possível, e também para que os membros daquele sindicato possam cobrar destes uma boa representação. O que não pode ocorrer é esses “dirigentes” usarem o cargo para se promover, buscando seus próprios interesses, sejam eles políticos partidários, indicações para cargos públicos ou outros, e, com isso, não cuidarem dos interesses dos filiados que os elegeram e que estariam pagando para uma boa representação. Casos de sindicatos, federações e confederações, de todas as categorias, sejam patronais, laborais ou de profissionais liberais serem usados como “trampolim” para a política partidária podem ser facilmente observados e citados, tanto no passado quanto atualmente.

O líder sindical também é, ou pelo menos deveria ser, um bom político, mas um político classista, e não partidário. Não podemos nem devemos permitir que essas funções se confundam. O político classista é o que, como dirigente sindical, representará os interesses daquela classe específica diante dos poderes constituídos, sendo para isso remunerado. O político partidário é aquele eleito pelo povo como um todo, para cuidar de seus interesses e também para isso é remunerado.

Só assim teríamos verdadeiros políticos nos representando, mas de modo bastante distinto. Os políticos classistas nos representando diante dos políticos partidários. Essa é, ou deveria ser, a função de cada um, que para isso foram eleitos e são, ou deveriam ser, remunerados para executar suas funções com dedicação e transparência.

Autor:João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br

Nenhum comentário: