domingo, 22 de maio de 2011

Marieta Severo: ‘A idade não está apenas nas rugas’

POR REGINA RITO
Marieta Severo, 64 anos, sonhava ser bailarina, mas, para a felicidade dos brasileiros, mudou de ideia e se transformou em uma de nossas grandes atrizes. Faz sucesso na TV, teatro e cinema e, semanalmente, desde 2001, pode ser vista no seriado ‘A Grande Família’, da Globo, como Dona Nenê.

Tal qual a personagem, Marieta também é rainha do lar. Segundo ela, todas somos: “Dentro de casa, por mais que o homem já esteja ocupando outros espaços, como a divisão das tarefas domésticas, quem reina ainda é a mulher. Quem domina mais aquele pedaço é a mulher, até com os filhos. Talvez por causa do cordão umbilical, acho que sempre a relação de maior interferência e de responsabilidade é da mulher”.

Marieta, que foi casada 30 anos com o compositor Chico Buarque de Holanda, com quem teve Sílvia, Helena e Luísa, também curte paparicar os netos (Lia e Tereza, filhas de Luíza e Cláudio Baltar; Francisco, Clara, Cecília e Leila, de Helena e Carlinhos Brown; e Irene, de Silvia e Chico Diaz).

Apesar de separada, mantém com o ex uma relação amigável: “Temos juntos as coisas mais preciosas das nossas vidas, que são as filhas e os netos. A nossa família se encontra muito, gosta muito de estar junta.”

Desde 2004, a atriz mantém um relacionamento com o diretor Aderbal Freire-Filho, mas revela que não pensa em oficializar a união: “Nos conhecemos com vidas muito completas, com muita coisa. Eu tenho família, tenho filhos e netos. O espaço que a gente tem de namorar é o melhor de todos”.

Quais as semelhanças entre você e Nenê?
“Nenê, que não trabalhava, agora é presidente da Associação de Moradores, não é só do lar. Está vendo como é dividir as tarefas. Está dançando miudinho, porque vê o que é chegar o Dia das Mães e estar trabalhando. Adoro vê-la atrapalhada, porque passei a vida atrapalhada (risos). Trabalho desde os 18 anos e isso me distanciou da Nenê, porque ela era do lar. Agora, as aflições dela estão mais parecidas com as minhas e com as das mulheres que trabalham fora”.

Depois de tantos anos interpretando a Nenê, ainda se surpreende?
“Sempre. Porque ela é um ser humano e o ser humano é complexo e não tem fim. Por mais que se expresse sempre naquele universo, ela tem sempre sutilezas. É aí que está a riqueza da personagem”.

Algumas de suas filhas têm semelhanças com as da Nenê?
“Não. Elas são bem diferentes e diferentes entre si. Assim como o Tuco (Lúcio Mauro Filho) e a Bebel (Guta Stresser), que não têm nada a ver um com o outro”.

Já pensou em deixar ‘A Grande Família’?
“Não. Sou muito feliz. Sei que estou em um espaço de extrema qualidade dentro da TV, que é muito querido pelo público. O que mais eu posso querer?”

É vaidosa? “Sou. Me cuido, sempre fiz ginástica, até mesmo para poder exercer a minha profissão de atriz com galhardia, dominando o meu corpo. E para poder chegar aos 64 podendo fazer uma peça como ‘As Centenárias’, que tem um exercício físico danado. Cuido da minha pele, gosto de estar em uma roupa em que eu me sinta bem, mas não sou escrava de nada disso. Às vezes, minha preguiça é maior do que a minha vaidade. Me cuido dentro dos limites do razoável”.

O que faz para manter a forma? “Fiz dança a vida toda. Não tenho tendência para engordar. Sou gulosa, mas me cuido. Se engordo dois, três quilos, trato de perder logo”.

Tem medo da velhice? “Tenho medo de qualquer coisa que me tire de mim, que mexa com a minha cabeça, com os meus neurônios. Com ruga, lido bem. Mas a possibilidade da minha cabeça não funcionar, me dá medo. Eu posso ficar velhinha, toda enrugada, mas quero a minha cabeça funcionando. Quero estar no palco, trabalhando”.

É a favor da plástica? “Sou a favor de tudo que dê bem-estar à pessoa. Se para você estar bem com você mesmo, com a sua autoestima, precisa fazer plástica e botar botox, faça. Mas acho que para o ator é muito perigoso não contar com a expressão do seu rosto. Eu ficaria agoniada de tentar franzir a testa e não conseguir. Isso ia me atrapalhar como atriz. Também não sou a favor dessa busca pela juventude desesperada que virou o tempo atual. É muito bom você estar bem dentro da sua idade. A idade não está apenas na ruga, está em volta de você. Sou a favor de usar a cosmetologia para se cuidar, mas fingir ter uma idade que não tem é cansativo. É melhor você estar bem dentro da sua idade e usufruir tudo o que tem de bom nela”.

Você faz TV há 45 anos, de lá para cá, quais as grandes mudanças? “São enormes. São mudanças de narrativa, dramaturgia, linguagem, interpretação. É impressionante como os atores brasileiros hoje são bons, como têm qualidade. Como um jovem ator brasileiro chega à TV dominando a linguagem televisiva. Até as crianças. Houve um progresso enorme, se você comparar com as primeiras novelas como ‘O Sheik de Agadir’ (1966), que eu fiz, onde nada tinha a ver com a realidade brasileira. A realidade brasileira nunca estava nas novelas. Isso foi um espaço conquistado. A TV brasileira é uma das melhores do mundo, a gente pode ter esse orgulho. A gente sabe fazer uma novela como ninguém. E temos seriados de excelente qualidade”.

Tem vontade de voltar às novelas? “‘A Grande Família’ não é eterna. Estou feliz aqui, estamos em um ano de grandes conquistas, de reviravoltas, coisas novas. Isso é muito motivador. Mas, quando o programa acabar, volto a fazer novela. Estou aí para trabalhar. Eu sou uma atriz que não nego trabalho, sendo bom, tendo qualidade, fico logo acesa para fazer. Seja onde for”.

Se considera mãe e avó coruja? Que tipos de coisas costuma fazer para agradá-los? “Totalmente. Mas tenho senso crítico também para educar, ver onde os defeitos podem ser driblados e as qualidades incentivadas. Meus netos, eu só babo, e procuro não estragar o trabalho das minhas filhas que educam bem. Para avó é tudo mais soltinho. Tento adivinhar o que posso fazer para o meu ibope subir com eles. Estou sempre em função do meu ibope. Batalho ponto a ponto (risos)”.

Você já fez muita TV, cinema e teatro. Tem preferência? “Não. O que me interessa nos três é a qualidade, é a busca artística, a intenção de voo. É você querer subir muito alto. Não gosto de voo raso. Se não tem voo artístico bacana, visa só a bilheteria, não me interesso. É claro que é impossível você não falar da importância do teatro na formação e no desenvolvimento do ator. A gente é soberano no palco. Não tem nada que te ajude a fazer a mágica, é você e o público. Então, ou você inventa aquela mágica e convence que você é outra pessoa ou, então, não acontece. É só você”.

Algum sonho profissional? “Meu maior sonho está muito bem realizado, que é o Teatro Poeira. Agora ainda mais, porque a Andréa Beltrão e eu inauguramos o Poeirinha, que está lindo. Fizemos uma parede no Poeirinha com todos os anúncios de tudo o que a gente fez nesses seis anos do Poeira. Esse é o grande orgulho da minha vida profissional. Nada se iguala a isso porque vai além de mim e da minha atuação como atriz. Nós fizemos o Teatro Poeira e o Poeirinha com recursos nossos. Eu e a Andréa que fizemos. Cada tijolinho é do nosso dinheiro”.

Andréa é sua melhor amiga? “Tenho grandes amigas e a Andréa é a minha comadre, a minha grande parceira na vida. Se não fosse com ela, eu não teria realizado o que a gente fez, que foi ter esses dois teatros”.

Tem algum projeto no cinema ou no teatro? “ Eu e Andréa vamos fazer uma turnê de ‘As Centenárias’ pelo Nordeste (Recife, Fortaleza, Salvador, Maceió, Aracaju e Natal) em junho, julho e agosto. E depois vou filmar ‘Vendo ou Alugo’ (título provisório), da Betsy de Paula, com produção da Mariza Leão.

Se considera realizada? “Sou muito feliz com o que a vida me deu. Consegui realizar muitas coisas. A vida me ajudou a concretizar sonhos, ter três filhas maravilhosas, meus sete netos crescendo superbem. Eu sou muito grata”.

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