
Não sei ao certo o que a diretora Catherine Hardwicke quer de sua carreira. A norte-americana, que, entre nós, apareceu no cinema por acaso — foi de arquiteta a cenógrafa, de cenógrafa a roteirista, de roteirista a diretora —, parece não ter grandes pretensões artísticas em sua carreira atrás das lentes. Seus objetivos, me parece, são desenvolver um punhado de blockbusters e ganhar alguns dinheirinhos — dignos — fazendo as vontades de uma massa adolescente, ainda pouco crítica, e sedenta por filmes com pitadas de tristeza, que se compare com a angústia e as dificuldades superficiais presentes no cotidiano de qualquer teenager.
Entrando em cartaz em todo o Brasil nesse dia 22 de abril, Catherine infelizmente volta às salas apresentando o seu quinto longa, "A Garota da Capa Vermelha" — uma reconstrução do conto infantil "Chapeuzinho Vermelho" —, o primeiro filme que desenvolve após dirigir a introdução da saga "Crepúsculo", baseada no dramalhão de Stephenie Meyer. Apesar da história um pouco melhor construída, a produção pode ser diretamente comparada ao fenômeno dos vampiros: só agrada o seu público, que apesar de numeroso é, não dá pra negar, restrito a uma única faixa etária.
Em "A Garota da Capa Vermelha", Hardwicke faz pequenos, nanicos, recortes no carbono de "Crepúsculo". A jovem protagonista, Valerie (interpretada pela monótona Amanda Seyfried, de "Mamma Mia" e "Querido John") vive em uma terra estranha, fria e azulada, cercada de criaturas mágicas, lobisomem, dois jovens galãs — uma dúvida levezinha sobre por qual é apaixonada —, e, é claro, a insegurança sobre sua iniciação sexual.

Ali, a jovem presencia a maior crise já vivida no lugarejo: o lobisomem, que circula por ali e sempre aceitou uns "subornos" para ficar longe da vila (não dá pra entender por que aquela gente não quer deixar de ser vizinha da besta e se mudar para outro lugar) se cansou dos pequenos sacrifícios oferecidos pelos caipiras, e decidiu barbarizar, matando a irmã de Valerie. Assim, os bebuns do lugar decidem que vão matar o bicho, sem sucesso. Como a empreitada dá com os burros n`água, um padre caçador desses demônios, Solomon (Gary Oldman), chega no local, assumindo um papel de xerife medieval, prometendo a execução do lobo. E o pior, o sacerdote diz que na verdade o lobisomem era um dos moradores da tribo, que na lua cheia se transformava no bicho.
Os únicos pontos dignos de elogios de "A Garota da Capa Vermelha" são a sua fotografia e os cenários, que transformam a vila em um lugar perfeito para o desenvolvimento de um conto infantil. A imagens cheias de sobras e contrastes cria um clima de suspense, sombrio, mas que também é atrapalhado por erros da diretora. Por exemplo, o lugar é gelado, em todos os cantos a neve está presente, mas os personagens parecem serem imunes ao frio, já que vestem roupas leves, mangas dobradas, peitos abertos. É clara a intenção da diretora de agradar meninas, expondo o corpo dos jovens galãs, mas deixando de lado a lógica da produção.

Os pontos mais conhecidos do mito original também sofreram na mão de Hardwicke. A vovozinha, um dos pontos do tripé de personagens do conto, foi transformada em um personagem totalmente coadjuvante e bizarro, com dreadlocks estranhos e falas sem sentido. Também não fica bem explicado o porquê de ficar enclausurada na sua cabana na floresta, guardando segredos em um baú velho. A clássica passagem do "Mas que olhos grandes você tem? Que orelhas grandes você tem?" foi recriada em uma alucinação sem sentido de Valerie, desnecessária, e muito explicativa. No melhor estilo "for dummies", a diretora foca e desfoca as partes do rosto da velhinha a medida em que a garota vai soltando as perguntas famosas. O próprio lobo, antagonista da história, é pouco explorado e aparece pouco, o filme aborda mais o mistério de sua identidade do que sua figura sinistra.
No fim das contas "A Garota da Capa Vermelha" é terrível, um filme chato e mal dirigido, que usa de forma desonesta a fórmula adotada em "Crepúsculo". Hardwicke erra novamente, e leva a público mais uma obra que se compara à quase acabada novela "Malhação" e mostra que vai mal até em filmes com enredos simples, direcionados a um público dos menos exigentes.
Assista ao trailer do longa:
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