quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Psicologia e Religião

Winnicott, por parte da Psicologia e Tillich, por parte da Teologia, observam que o que faz oposição à vida não é o instinto de morte, mas sim, o não-ser (para Tillich) ou o não-viver (para Winnicott). Tillich pontua que para ser/viver, exige-se coragem. A coragem de ser como “si próprio”, na perspectiva de Tillich tem a ver com a criação do “próprio estilo” winnicottiano e tem a ver com a “coragem de fazer de si próprio o que se quer ser”. Mas há um paradoxo em “fazer de si o que quer ser”, pois, o mesmo não se separa do ser que participa na existência do outro e no cuidado com o outro.

Levando em consideração a matriz de identidade observa-se que as experiências de separação entre bebê e mãe trazem sofrimento ao bebê em razão da perda do sentimento de continuidade da existência. Winnicott observou que nesse processo, o bebê encontra objetos que simbolizam a presença da mãe e por isso são capazes de restaurar o sentimento de continuidade de existência, necessário ao processo de constituir-se como uma unidade coesa. A esses objetos simbólicos Winnicott chamou de objetos transicionais, porque eles têm uma função fundamental, a de substituir a presença da mãe e são eles a chupeta ou o paninho. Assim, pelo objeto que o próprio bebê escolhe para simbolizar a mãe, ele vai constituindo-se como unidade separada, reconhecendo-se como sujeito ao mesmo tempo em que não perde, pela separação, o sentimento de continuidade de existência, ou seja, este campo ilusório é necessário na vida do indivíduo.

Esse objeto que surge entre o bebê e a mãe é um objeto criado pelo próprio bebê e indica o movimento criador, fundante de uma existência ativa. O termo objeto transicional abre campo ao processo de tornar o bebê capaz de aceitar a diferença e a similaridade, pois esse objeto transicional funciona como visibilidade de um jogo de forças que se dá na dimensão invisível. E essa experiência tem a ver com a construção da capacidade de simbolização presente na religião. Essa terceira área, que Winnicott identifica como uma área de ilusão, do seu ponto de vista é necessária para o sentimento de continuidade existencial. Pois, a substância da ilusão refere-se ao que é permitido ao bebê e que na vida adulta é inerente à arte e a religião. Essa área intermediária (espaço das ilusões necessárias) está entre a criatividade primária e a percepção objetiva baseada no teste da realidade. Interessante observar que para Winnicott, essa área de substância ilusória é o espaço que nasce da atividade criativa – que é uma passagem (transição) para a realidade externa. É a área onde a experiência cultural se realiza criando os fenômenos transicionais (arte, filosofia e religião) - necessários ao ser humano. É, portanto, o espaço onde o adulto encontra alívio da tensão que nasce da necessidade de aceitação da realidade que nunca é completada e nenhum ser humano está livre da tensão de se relacionar com a realidade interna e externa.

Para Tillich um ser plenamente desenvolvido é um ser plenamente centrado. O termo "centralidade" deriva do círculo geométrico e é aplicado metaforicamente por Tillich à estrutura de um ser no qual um efeito exercido sobre uma parte tem consequências para todas as partes, direta ou indiretamente e a religião seria o controle essencial na vida humana desta centralidade. Quando não há controle desta centralização ou quando o efeito ilusório não distingue realidade interna e externa, esta crença ou dita religiosidade trará o desenvolvimento de neuroses.

Paulo César Ribeiro Martins Doutor em Psicologia pela PUCCAMP
Professor da UEMS/AEMS/FIPAR/Psicoterapeuta em Três Lagoas
(67) 81026363/(67) 99174065

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