Desde o anúncio da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, ocorrida em 2007, até esta sexta-feira, dia que marca a contagem regressiva para os mil dias para abertura da competição, as preparações foram alvo de críticas, polêmicas e questionamentos, e muito poucas apreciações positivas, tanto no que diz respeito a construção dos estádios quanto na própria equipe de futebol do país anfitrião.
Por exemplo, ainda não se sabe onde será disputada a partida inaugural da Copa. Inicialmente, o Morumbi (estádio do São Paulo) seria o palco, mas foi excluído pela Fifa em junho de 2010 por falta de entrega de garantias sobre o projeto. Outro fator que contribuiu para a saída do local foi um entrevero político entre o presidente tricolor, Juvenal Juvêncio, e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.
Em seguida, surgiu o polêmico projeto do estádio do Corinthians, popularmente já batizado de Itaquerão (Zona Leste da capital paulista), como sede do primeiro jogo. O projeto conta com a renúncia fiscal de R$ 420 milhões por parte da Prefeitura de São Paulo, além de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o apoio explícito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (torcedor corintiano). As obras já começaram, mas a previsão inicial de conclusão é para fevereiro de 2014. A Fifa só define se a nova arena será o local da abertura em outubro. São Paulo já está fora da relação de cidades-sede da Copa das Confederações de 2013, evento-teste para a Copa.
Como se não bastasse a indefinição em torno da abertura, ainda há a questão da grande final. É certo que será no Maracanã. Mas as obras de reforma do estádio estão paradas por conta de uma greve realizada pelos trabalhadores, a segunda em dois meses. Os operários reivindicam melhores condições de trabalho, como plano de saúde extensivo aos familiares e qualidade na alimentação oferecida (há denúncias de que a comida é oferecida estragada). O consórcio de empresas responsáveis diz que cumpre com os acordos. A Justiça do Trabalho vai decidir sobre a legitimidade ou não da greve em audiência marcada para esta sexta-feira.
Outros estádios das cidades-sedes também estão sendo construídos com empréstimos do BNDES, no regime das chamadas Parcerias Público-Privadas (PPPs). Mas uma questão preocupa: há arenas que correm o risco de se transformarem nos chamados "elefantes-brancos": são localidades que não contam com clubes de tradição no futebol brasileiro, sem torcida suficiente para lotar a capacidade das instalações, como Manaus e Cuiabá. De acordo com levantamento feito pelo portal "iG", oito dos doze estádios em construção ou reforma estão dentro do prazo.
Fifa demonstrou preocupação com andamento da organização
O ponto "infraestrutura" também é alvo de debate: o Congresso Nacional aprovou em junho o chamado Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). A presidente Dilma Rousseff sancionou a norma, que permite maior flexibilização nas contratações para as obras referentes à Copa, em especial no que diz respeito à licitação. A medida é alvo de pelo menos dois pedidos de suspensão no Supremo Tribunal Federal (STF). O Governo Federal alerta que a flexibilidade não vai implicar em perda de transparência dos gastos.
Mediante isso, as principais autoridades da Fifa já fizeram críticas públicas sobre a organização do evento: o presidente Joseph Blatter e o secretário-geral Jerôme Valcke. No Brasil, a principal autoridade pública que tem feito a defesa de que tudo vai dar certo é o ministro do Esporte, Orlando Silva.
Outro personagem é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Alvo de críticas e denúncias de tentativa de suborno nas últimas eleições da Fifa, o dirigente causou revolta em setores da opinião pública por conta de uma entrevista concedida à revista "Piauí", na edição publicada em julho. Ele afirmou que não tem porque dar satisfações sobre o faturamento da CBF por tratar-se de entidade privada e disse estar "cagando" para o que a imprensa tem divulgado a respeito de denúncias. Depois disso, Teixeira passou a ser alvo de protestos nas principais cidades brasileiras, com faixas e cartazes pedindo a sua saída.
Seleção Brasileira pouco vence e não convence
Dentro das quatro linhas, a situação também é alvo de questionamentos: a Seleção Brasileira comandada por Mano Menezes ainda não convenceu torcida e analistas. Tido como responsável de uma renovação na equipe após a execração de Dunga pela eliminação na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, o treinador já é questionado após um início mediano e resultados bastante negativos mesmo tendo jogadores extremamente valorizados (como Neymar e Lucas), principalmente depois da eliminação recente na Copa América para o Paraguai, com quatro jogadores brasileiros perdendo quatro pênaltis seguidos. Até o fim do ano, a Seleção Brasileira terá amistosos contra times que ocupam posições médias no ranking da Fifa. Mano está optando por convocar um dos melhores jogadores que atuam no Campeonato Brasileiro, Ronaldinho Gaúcho, a fim de transmitir mais experiência aos novatos e obter melhora nos resultados.
Uma das declarações mais impactantes a respeito da organização da Copa do Mundo 2014 partiu do deputado e ex-jogador Romário (PSB-RJ). O parlamentar tem sido um dos maiores observadores da organização e tem feito críticas incisivas: em junho, ele afirmou que "só Jesus Cristo" seria capaz de salvar o sucesso da realização do evento no Brasil. A conferir.
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