quarta-feira, 13 de abril de 2011

O BRINCAR E O IMAGINÁRIO

Paulo César Ribeiro Martins
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP - Professor da UEMS/AEMS/FIPAR
Psicólogo Clínico em Três Lagoas/MS - (67) 81026363/(67) 99174065

O brinquedo tem uma enorme influência para o desenvolvimento infantil. Ele proporciona situações que estimulam atividades, dando condições para que a criança se desenvolva. Uma criança na primeira infância não consegue separar o pensamento do objeto real. Por exemplo, para imaginar um cavalo, ela precisa usar um “cavalo-de-pau”. Dessa forma, qualquer cabo de vassoura pode ser um cavalo, mas um cartão postal não pode ser um cavalo, pela razão de não poder ser usado como tal.

A função da brincadeira no desenvolvimento infantil se dá com a união brinquedo e criança, na qual a criança aprende a expor suas ideias e isso depende de motivações internas. Nessa fase, considerada a idade pré-escolar, a criança já percebe uma diferença entre o significado e o campo visual. O brinquedo desperta desejos na criança e ela relaciona esses desejos a um “eu” fictício. Assim, suas vontades são conseguidas no brinquedo.

Quando a criança cria uma situação imaginária, bem próxima da situação real, ocorre uma reprodução da situação real. O brinquedo, muitas vezes, é mais uma lembrança de algo que aconteceu, do que imaginário.

Segundo Vigotski as ações internas e externas são inseparáveis: a imaginação, a interpretação e a vontade são processos internos conduzidos pela ação externa. Em uma brincadeira, as condições da ação podem ser mudadas, as crianças podem usar vários objetos para representar uma ação, mas o conteúdo e a sequência da ação devem permanecer de acordo com a situação real. Nessa linha, Leontiev cita que o brincar da criança é humano e constitui a base que ela tem do mundo. A brincadeira surge a partir da necessidade da criança agir em relação ao mundo e também em relação ao mundo dos adultos, desejando imitar a maneira como ela vê os outros agirem.

O brinquedo não surge de uma fantasia construída na sua imaginação. O sentido e o significado do brinquedo não são fornecidos antecipadamente, eles surgem ao longo do jogo. Nas brincadeiras pré-escolares, as ações das crianças sempre são reais, ou seja, a brincadeira não surge de uma fantasia, a própria fantasia é empregada pelo jogo. As operações da criança com os brinquedos do período pré-escolar sempre são reais e sociais. Dessa forma, ela consegue fazer uma assimilação da realidade humana.

Para Leontiev brincadeiras e jogos com regras são mais tardios, pois é difícil para uma criança de três ou quatro anos seguir regras. No entanto, desde cedo as ações lúdicas surgem como base para a criança dominar o mundo dos objetos humanos. Jogos e brincadeiras em grupos propiciam as relações sociais. Nesses jogos surge o início da subordinação da criança com a regra. As brincadeiras que envolvem mais de uma criança propiciam relações sociais e isso é importante para que a criança forme a própria regra do brinquedo.

A criança sempre está brincando, pois ela é um ser lúdico. Sua brincadeira tem sentido, corresponde a seus interesses e a conduz a produzir habilidades e hábitos.

Segundo Vigotski a brincadeira é uma forma natural de atividade da criança, uma preparação para a vida futura. Pode-se dizer que quase todas as nossas reações mais importantes foram elaboradas nas brincadeiras infantis. Nessas brincadeiras infantis são traçadas linhas básicas, traços fundamentais, que, posteriormente, a ajudarão a realizar a vida futura.

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