sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Vidas vazias







Autora: Helena de Paula
E-mail: mhelenap66@hotmail.com






Quatro horas da manha...
Janaina acorda, não tem despertador.
Mas também nem precisa.
Ela diz que quando o galo canta já e hora de sair da cama.
Galo? Será que ele existe? Mas também nem precisa!
Janaina faz tudo automaticamente. Sempre a mesma rotina,
Acende o fogão a lenha... Coloca uma panela preta de barro Cuidadosamente ela corta os legumes

Primeiro a cebola em quatro partes, corta o tomate e também o repolho, tudo colhido na horta, no dia anterior.

Agora lava o arroz, pronto coloca tudo na mesma panela
Prova o sal.

E so isso?
Sim só isso... Não precisa de mais nada.

Enquanto a comida no fogo cozinha, ela prepara o facão. Certifica-se que ele está mesmo afiado.
Coloca uma calça velha, surrada
Por cima um vestido de chita,
Que cor? Não tem mais cor.
Desbotou com o tempo assim como também desbotou seus sonhos.
Anda até o espelho e pára diante dele.
Mira-o por alguns instantes um rosto ainda bonito.
Que aos poucos vai se transformando.
Prende o cabelo, amarra um pano na cabeça, e por cima coloca o chapéu.
.
Pronto... Está pronta. Pronta para guerra.
Guerra contra a fome... Contra o tempo, guerra contra o sol, a chuva. Guerra pela vida.
O silêncio da madrugada só e quebrado pelo barulho das suas passadas. Janaina ainda consegue ver algumas estrelas no céu.
E ela caminha só...
Não tem sonhos nem esperanças,
Caminha dois ou três quilômetros.
Apressa um pouco mais o passo, não pode perder o caminhão... Janaina caminha ofegante.
O frio da madrugada gela as mãos, o frio congela a alma!
Sobe no caminhão, onde se junta a mais rostos tristes, olhos sem brilho, vidas sem vida... Vidas secas.
Todos com o mesmo destino... O canavial.
Quando o dia termina, a mesma rotina...
O retorno. O caminhão, a estrada, o difícil caminho da volta. Novamente Janaina vê a noite, novamente vê as estrelas, e ela continua só. Não tem ninguém... Não precisa...

8 comentários:

Cássio Seagull disse...

Ah,,,essas vidas secas e vazias...esses olhos tristes que já acordam na escuridão das madrugadas...sem nenhuma perspectiva de algo melhor em suas vidas,além de seu facão derrubando os canaviais dos patrões ricos donos de engenhos...a maioria deles com assento macio no Congresso Nacional.Esse explorar do homem pelo homem que a carta dos direitos humanos editada em 1776...por Jeferson...já abordava.E veja: nesses canaviais continua a escravidão...e o chicote foi substituido graciosamente por um salário tão magro...que nem para comer e subsistir basta...Essa a realidade nacional...desfuncional isso sim...E o resto? São palavras como as tuas e as minhas...que o vento leva ao seu sabor...Bom esse teu texto...parabéns querida amiga.Adoro você cutucando... mesmo que veladamente em forma de romance.

Luiz Pádua disse...

Um conto de ficção trazido para a vida real com o estilo e a perfeição da narrativa de Helena de Paula. Ao ler este maravilhoso conto, sinto-me como um de seus coadjuvantes da personagem de Janaina. Muito gostoso de ler, principalmente no café da manhã. Essa contista espetacular que é Helena, nos surpreende a cada dia que passa com suas belas histórias.
Aplausos de pé.

helena de paula disse...

Obrigado meus amôres,Cassio e Luiz fico feliz por terem gostado beijos aos dois!

Joaquim Gomes disse...

Me lembro muito desta vida! Vida que so se vive porque ninguem quer morrer. E que Deus nos deixou estes meios para viver; Mas que por causas de esplicaçoes desnecessaria; Quem la vive, apenas sobrevive! E são estes sobreviventes; Quem sustentam criando alimentos, para mais de sete bilhões de bocas na terra! E poucos olham para estes com carinho! sou filho da roça graças a Deus! Mas as lembraças... Parabéns Helena! Vidas vazias são assim mesmo! Beijos! Joaquim Gomes

Jornal Bandeirantes News disse...

É uma tarefa árdua falar de uma escritora; como também é uma tarefa difícil falar sobre a sua obra;E mais complicado ainda é falar sobre a alma desta escritora, principalmente quando ela escreve com o sentimento do fundo da sua própria alma.Pois é assim que a escritora Helena de Paula é: Um escritora difícil de ser analisada porque escreve com o que há de mais profundo na sua alma.E quem precisar constatar isto, além de ler os escritos dela no Recanto Das Letras,também poderá navegar em uma viagem cheia de emoções, de amor, veneração,ódio,momentos de alegrias e de tristezas,infelicidades e felicidades,derramando lágrimas, é só embarcar nas pás do seu," Moinho de Ventos",lançamento na última Bienal de são Paulo.Confesso-lhes que no livro citado, vocês tomarão conhecimento de um novo estilo de escrever romance. Se quiserem, deem uma passadinha no Recanto das Letras para uma lida no texto Sinfonia do Amor, da Helena de Paula

JOTA KAMERAL

ismalves disse...

Preciosos e verídicos comentários tecidos pelo escritor Jota Kameral, onde com maestria delineia o real perfil da escritora Helena de Paula, que, sem dúvida esparge pelos seus belos textos toda a sensibilidade e beleza de alma. Como tambem nos brida com um romance excepcional através do seu livro Moinhos de Vento. parabens aos dois.

Anônimo disse...

"Verdadeira obra de arte, composta de varias fatos verídicos e imaginários. Maneiras como sempre anda a vida a rotina de quem corre todos os dias, jornada cansativa.
Tantas horas rege a monotonia ao suspense."

Gostado, muito bom mesmo...

Antenor Rosalino disse...

Adorável Helena, o seu conto descrito com a tocante sensibilidade que lhe caracteriza, contém verdades insofismáveis sobre muitas vidas em cotidianos vazios e do mais triste amargor. Muito lamentavelmente ainda presenciamos trabalhos de quase escravidão. Parabéns por mais essa linda e oportuna obra e um abraço com o carinho e admiração de sempre.