sexta-feira, 16 de julho de 2010

O legislador hipócrita

Através da imprensa, soube de alguns fatos que me levaram a um raciocínio que deve ser o mesmo de milhares de brasileiros: o governo federal duplicou, de janeiro a junho de 2010, a média mensal dos gastos com propaganda, em relação ao mesmo período de 2007, 2008 e 2009. Isso vem ocorrendo sistematicamente, em todos os anos de eleição, quando se faz de tudo para ganhar as próximas eleições, mesmo que sejam atos irregulares ou que prejudicarão o país.

O Brasil está tentando repatriar U$ 13 milhões, depositados em uma conta bancária na Suíça, que seria de Fernando Sarney, filho do atual Presidente do Senado, José Sarney. O governo brasileiro solicitou ao governo suíço que transformasse o bloqueio administrativo do dinheiro, já realizado preventivamente por aquele governo, em bloqueio criminal, porque o mesmo seria resultante de atividades ilícitas. Segundo o inquérito, parte do dinheiro seria resultante de desvios da obra da ferrovia Norte-Sul, um dos projetos prioritários do PAC.

Os ministros responsáveis pela área econômica e da previdência garantiram, de todas as formas possíveis, que o governo não poderia conceder um aumento aos aposentados superior aos 6,14 %, proposto por este para votação no Congresso Nacional.

O Congresso, em ano de eleição, para ganhar votos e, além disso, para jogar um problema nas mãos do Presidente da República e, com isso, tentar criar uma situação que poderia prejudicar a campanha da candidata do governo, concedeu um aumento de 7,72 %, que foi imediatamente criticado pelos ministros, alegando que o aumento concedido era uma irresponsabilidade dos congressistas, e que seria vetado pelo Presidente da República. E o presidente, que não poderia correr o risco de prejudicar a campanha de sua candidata, concedeu o reajuste proposto pelo Congresso e, com isso, tenta conseguir mais votos diante dos eleitores dessa classe social.

Soube também pela imprensa que os candidatos gastam hoje para se eleger, dependendo do cargo pleiteado, entre 10 e 100 vezes mais do que ganharão durante todo o seu mandato de quatro anos. E isso é o que é declarado oficialmente, fora o que, todos sabem, não é declarado.

Assim, gostaria muito de não fazer um juízo errôneo de alguém que procura ser um político partidário neste país, mas fico me questionando, querendo mesmo entender, o que leva uma pessoa a pagar para trabalhar. Sim, porque matematicamente, na prática, é isso o que ocorre. Ou há algo de muito errado que o eleitor não sabe.

Imagino, então, que centenas, milhares ou mesmo milhões de brasileiros, ao tomar conhecimento desses números, assim como eu, ficam imaginando coisas que não deveriam ocorrer no país, como o elevado grau de corrupção constatado nos mais diversos setores da política nacional, mas que infelizmente vêm ocorrendo muito, principalmente no governo atual, como a própria imprensa tem noticiado e a Polícia Federal tem mandado diversos casos para a justiça.

Entre esses brasileiros que se escandalizam diariamente com esse tipo de notícia, certamente existem centenas, ou milhares, que poderiam prestar um excelente serviço ao país, mas se recusam, só de pensar nesses números. Pensam, é claro, que, se precisam de tanto dinheiro para se eleger, mesmo que dispusessem de tal, precisariam necessariamente se corromper para, no mínimo, recuperar o dinheiro investido.

Se esse raciocínio está correto, e penso que sim, ocorre aí uma exclusão efetiva dos homens de bem, e uma seleção canalizada especificamente para os corruptos. E essa situação não se altera justamente porque quem deveria votar as alterações necessárias são exatamente, salvo raríssimas exceções, os corruptos e ladrões que continuam sugando a pátria em benefício pessoal e que, como se vê, continuarão legislando em benefício próprio e dos seus.

Autor: João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br

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