quinta-feira, 26 de julho de 2012

Suinocultores abram os olhos: a solução da crise depende muito mais de vocês que das autoridades de Brasília

Polan Lacki

O antigo provérbio popular - o peixe morre pela boca - também se aplica à suinocultura.

Mais uma vez os suinocultores estão angustiados com a falta de rentabilidade nas suas criações. Desta vez o vilão mais importante é o elevado preço do milho e da soja. Enquanto os suinocultores se iludem e depositam todas as suas esperanças nos improváveis socorros de Brasília, é necessário esclarecer-lhes que:

1) Se eles não conseguem obter um preço melhor na comercialização dos suínos necessitam e podem solucionar o problema "enxugando" os custos por quilo produzido.

2) A redução no custo de produção deverá concentrar-se em uma inteligente e drástica redução no custo das rações balanceadas. Esta recomendação se fundamenta no poderoso motivo de que na suinocultura o componente alimentação responde por 80% do custo de produção. É este o grande e decisivo componente cujo custo pode e deve ser reduzido, pelos próprios criadores de suínos.

Enquanto os suinocultores não abandonarem o comodismo de adquirir as rações industrializadas do último elo de uma longa cadeia de intermediação e não tomarem a eficaz decisão de produzir os seus próprios componentes e com eles elaborar as suas próprias rações, terão cada vez menos rentabilidade e, finalmente, terão que abandonar esta atividade.

Os três grandes inimigos dos suinocultores: individualismo, comodismo e ingenuidade

A propósito, muitos suinocultores já produzem ou poderiam produzir em suas propriedades, ou em terras arrendadas de terceiros, alguns dos principais componentes e com eles elaborar as suas próprias rações balanceadas (milho, soja, sorgo, alfafa, girassol, trigo, aveia, amendoim, triticale, grãos de algodão, mandioca, batata doce, abóbora, etc.). Infelizmente eles não as elaboram pelos seguintes motivos: a) por falta de solidariedade entre os próprios criadores para poder adquirir e utilizar em conjunto os equipamentos necessários para produzi-las; b) por falta de uma orientação técnica idônea e comprometida a solucionar os problemas econômicos dos suinocultores e não a defender os interesses das empresas que fabricam e revendem rações industrializadas. Estas empresas recém mencionadas, evidentemente, fazem de tudo para desestimular os suinocultores a produzirem as suas rações com argumentos tendenciosos, como por exemplo: não é possível fazê-lo, exige muitos investimentos e profundos conhecimentos técnicos para balancear adequadamente os ingredientes, os compradores de suínos exigem certas tipificações de carcaças que apenas os grandes fabricantes de rações podem satisfazer, etc. E, finalmente c) por simples comodismo pois é mais fácil adquirir uma ração industrializada que produzir os seus componentes e elaborá-la; porém este comodismo está destruindo-os economicamente.

Os pequenos suinocultores terão que ser grandes na solidariedade com os seus colegas

Para produzir as suas próprias rações os suinocultores poderiam formar grupos solidários para receber um assessoramento técnico especializado e confiável em formulação de rações balanceadas, adquirir e utilizar em forma associativa/coletiva um triturador de grãos, uma balança, um misturador e, quando for possível, uma extrusora de grãos para eliminar os fatores antinutricionais de alguns componentes. Cumpridos estes dois requisitos eles poderiam processar estas matérias primas, agregar o núcleo/premix e elaborar as suas próprias rações, reduzindo drasticamente os custos da alimentação e consequentemente os custos por suíno terminado.

Lamentavelmente, mesmo aqueles agricultores que já produzem as principais matérias primas utilizadas na fabricação das rações, cometem a ingenuidade de vendê-las de forma individual, sem nenhum valor agregado, ao primeiro intermediário que aparece na sua propriedade; e o fazem na pior época do ano quando todos colhem e necessitam vendê-las rapidamente para pagar as dívidas que coincidentemente contraíram porque compraram, a preços muito elevados, as rações industrializadas. Este intermediário transporta os mencionados ingredientes geralmente a um centro industrial distante centenas de quilômetros e os vende a uma fabricante de rações. Este, depois de processá-los e agregar-lhes os componentes do núcleo ou premix, vende as rações a outro intermediário que as transporta de volta, muitas vezes ao mesmo município do qual saíram os referidos ingredientes. Posteriormente um novo intermediário vende as rações, em muitos casos, aos mesmos agricultores em cujas propriedades foram colhidos os ingredientes com os quais a indústria fabricou as rações. Esta distorção é simplesmente inaceitável, entre outras razões, porque ela poderia e deveria ser evitada e corrigida pelos próprios suinocultores, os quais, por falta de uma adequada orientação técnica, não eliminam esta que é a principal causa da falta de rentabilidade na criação de suínos.

Os suinocultores pagam dois passeios, o dos ingredientes e o das rações que voltam aos municípios nos quais foram colhidos estes mesmos ingredientes

Os produtores de suínos necessitam ser alertados/advertidos de que os custos destes dois longos e caros "passeios", os de ida e os de volta, são eles mesmos que estão pagando, como por exemplo: os fretes e pedágios, os impostos em cada uma das transações nos distintos elos da cadeia, as multas ou "mordidas" dos policiais/fiscais nas rodovias, os lucros/ganhos de todos os intermediários e a agroindústria, a caríssima publicidade que os fabricantes de rações difundem através das feiras e exposições agropecuárias, revistas e canais de televisão, os salários dos executivos das fábricas de rações e em muitos casos os "royalties" das transnacionais que fabricam estes alimentos balanceados.

Todas estas elevadas despesas e estes longos passeios poderiam ser simplesmente eliminados

Em vez de vender aos intermediários as matérias primas que colhem em suas propriedades, os produtores rurais deveriam transformá-las em rações e "vendê-las" diretamente aos seus suínos, sem pagar nenhum frete na ida e na volta, nenhum pedágio na ida e na volta, nenhum imposto na ida e na volta, nenhum lucro a nenhum intermediário na ida e na volta e a nenhuma agroindústria. Esta é a solução que os suinocultores necessitam adotar para que possam apropriar-se legitimamente das riquezas que produzem nas suas propriedades rurais.

Para concluir, na minha condição de não fabricante nem vendedor de rações nem de núcleos nem de premixes, faço a seguinte sugestão aos suinocultores: Abandonem imediatamente o individualismo e o comodismo e... especialmente abram os olhos; vocês estão amargando sucessivas crises, porque na cadeia da suinocultura existem demasiados "sócios" e as riquezas que vocês estão produzindo nas suas propriedades rurais fazem excessivos e desnecessários "passeios". Ao contrário do que afirmam os fabricantes e vendedores de rações industrializadas, vocês mesmos podem e devem produzir os ingredientes e com eles elaborar as suas próprias rações. Fazê-lo não é nenhum "bicho de sete cabeças"; consultem um competente zootecnista, agrônomo, veterinário ou técnico agrícola da sua região. Os criadores que produzirem as suas próprias rações poderão reduzir acima de 50% o custo da alimentação e esta redução poderá salvar da crise muitos suinocultores.

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- Polan.Lacki@onda.com.br

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