terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O agronegócio vai sambar


Ariosto Mesquita (ariostomesquita@globo.com)
Não é mole não! O setor que reúne as atividades econômicas que mais colaboram com o PIB brasileiro vai ser destaque para todo o Brasil e para o Mundo dessa vez no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro – a vitrine do Carnaval brasileiro.

Mas o que o agronegócio tem a ver com o samba? Em princípio nada. Engano de quem assim pensa! O carnaval carioca, por exemplo, está estritamente ligado com a produção no campo. Senão vejamos: o couro de animais é usado até hoje na fabricação de instrumentos clássicos de uma bateria de escola de samba, como é o caso da cuíca e até do atabaque (introduzido pela Viradouro em 2009).

Quer mais? A madeira está nos revestimentos e estruturas dos instrumentos, baquetas e carros alegóricos. E o que seriam das fantasias sem as penas e plumas de aves? E o que falar então do algodão, imprescindível na confecção de vestimentas que facilitem a transpiração do passista. Enquanto isso, nos camarotes da Marques de Sapucaí, o deleite gastronômico dos mais afortunados inclui, dentre outras coisas, carnes, queijos, saladas, frios e cereais.

Mas caso ainda haja alguma dúvida desta ligação agronegócio-samba-carnaval, experimente assistir, no dia 06 de março de 2011, o desfile da escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. A agremiação vai para a avenida totalmente focada em reverenciar a história e a importância do agronegócio brasileiro através do enredo “Parábola dos Divinos Semeadores”.

A escola garante apostar alto neste desfile. “Nosso carnaval vai custar cerca de R$ 8 milhões e vamos colocar quatro mil pessoas na avenida”, afirma o diretor de carnaval da Mocidade, Ricardo Simpatia. Parte deste recurso vem do patrocínio da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que está investindo R$ 2,6 milhões.

“Antes de definirmos nosso enredo fomos procurados pela senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, que sugeriu um desfile tendo como foco o agronegócio brasileiro; diante disso, analisamos e chegamos a um acordo, garantindo a liberdade de expressão que a escola não abre mão”, conta Simpatia.

O carnavalesco confirma o valor do “patrocínio” da CNA. “O dinheiro está sendo repassado em parcelas até fevereiro, uma vez que a Confederação, ao que parece, está buscando fundos através da Lei Rouanet”, explica, se referindo à Lei Federal de Incentivo à Cultura. Ao que tudo indica, dinheiro não será problema para a Mocidade no desfile de 2011. “Estamos também em negociações com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, revela o diretor de carnaval.

Origens agrárias
O enredo “Parábola dos Divinos Semeadores” foi lançado oficialmente no dia 28 de maio de 2010, na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, com a presença da presidente da CNA, Kátia Abreu. Na sinopse do enredo, a Mocidade busca as origens agrárias do homem no mundo, as celebrações pelas boas colheitas e a sua fixação à terra a partir da descoberta do “milagre da vida contido no interior dos grãos e sementes”. Passa pelas grandes civilizações apoiadas sempre em um farto sistema produtivo (Egito, Grécia e Roma) e chega ao Brasil reverenciando as características do Norte, Nordeste, Cerrado e Pampa. Ao final, traça um paralelo entre a fartura agrícola e a alegria do carnaval.

A escolha final do samba-enredo da Mocidade aconteceu na manha do dia 18 de outubro. Foi ganhadora a parceria entre os compositores J.Giovanni, Zé Glória e Hugo Reis, que também venceram no carnaval passado.

Um bilhão e meio de pessoas
A senadora e presidente da CNA pretende que a escola mostre tanto a atividade produtiva da agropecuária brasileira quanto à forma de produção que envolve conceitos ambientais. No final do ano passado, em Campo Grande, MS, Kátia Abreu revelou a sua expectativa com relação ao desfile: “espero que tudo seja visto por um bilhão e meio de pessoas em todo o Mundo”.

Ela admite que a estratégia está ligada com a reformulação da imagem do produtor rural brasileiro no exterior: “se por um período grande estivemos com a imagem ruim, a responsabilidade foi toda nossa; portanto queremos reverter isso de forma verdadeira”.

Enquanto isso, a Mocidade Independente define detalhes do seu desfile. “Teremos 20 alas para a comunidade, 18 alas comerciais (vendidas), além das alas tradicionais”, informa Ricardo Simpatia. A escola, inclusive, conta com a participação de produtores rurais e demais setores do agronegócio brasileiro na Marques de Sapucaí.

“Quem tem interesse deve nos procurar até fevereiro; temos projetos em várias condições”, garante o diretor de carnaval da Mocidade. Os contatos com a Escola podem ser feitos através do fone:(21) 2203-1207 e também por e-mail: barracao@mocidadeindependente.com.br .

Confira a letra do Samba-enredo da Mocidade 2011

Enredo: Parábola dos Divinos Semeadores
Autores: J. Giovanni, Zé Glória e Hugo Reis

Uma luz no céu brilhou, liberdade!
Meu coração venceu o medo
O que era gelo se tornou felicidade
A esperança se espalhando pelo chão
A natureza tem mistérios e magias
Rituais, feitiçarias, deuses a me abençoar
Levado pela luz da estrela guia
Eu vou por onde a semente germinar

O QUE EU PLANTEI, O MUNDO COLHEU
UM MILAGRE ACONTECEU
A VIDA CELEBROU UM IDEAL
E A FARTURA SE TRANSFORMA EM FESTIVAL

Festa de Ísis, a Farra do vinho
Em Roma a semente foi brotar
Mudaram meu papel, oh Padre Miguel!
Hoje ninguém vai me censurar
O baile da máscara negra
Até a nobreza teve que engolir
Meu Brasil, de norte a sul sou manifestação
Aonde vou, arrasto a multidão
De cada cem só não vem um
Vou voltar, um dia ao espaço sideral
E reviver o meu ziriguidum, em alto astral

TÁ TODO MUNDO AÍ? LEVANTA A MÃO!
QUEM É FILHO DESSE CHÃO
CHEGOU A MOCIDADE, FAZENDO A ALEGRIA DO POVO
MEU CORAÇÃO VAI DISPARAR DE NOVO

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