Estudos sobre ocupação de encostas já apontavam risco de vida para pelo menos 33 mil moradores dos municípios
POR DIEGO BARRETO
Segundo estudo de Waleska Marcy Rosa, professora de Direito Constitucional do Centro Universitário Serra dos Órgãos, pelo menos 25% dos imóveis (cerca de 10 mil) de Teresópolis eram irregulares, como antecipou o ‘Informe do DIA’ quinta-feira passada. Em Petrópolis, seriam no mínimo mil. “Os dados, de 2005, são subdimensionados. Basta caminhar pelos municípios para constatar”.
Destruição e muita lama nas ruas de Nova Friburgo | Foto: Divulgação
A estudiosa criticou falta de planejamento e legislação de uso do solo. “Em Petrópolis, é um pouco melhor, mas há problemas. Em Teresópolis, a base legal é fraca. A omissão do poder público se repete ao longo de décadas. Ao invés de reprimida, a ocupação é estimulada com a instalação de serviços, como abastecimento de energia, água, asfalto”.
Morador há 13 anos do bairro Mata Machado, em Itaipava, Petrópolis, o mecânico Sidney Pacheco, 47, não tinha noção do risco de viver às margens do Rio Santo Antônio. “Nunca imaginava uma coisa dessas. A prefeitura nunca avisou à população sobre riscos, mas sempre veio cobrar impostos. Agora perdemos tudo”, disse apontando a destruição de sua casa, oficina e oito carros de clientes.
Teresópolis do alto: cenário de devastação | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, estimou em 5 mil as famílias em áreas de risco em Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. “A omissão e cumplicidade de alguns prefeitos com a ocupação irregular foram decisivas para a tragédia. Há 10 anos estive na Área de Proteção Ambiental de Jacarandá, Teresópolis, e presenciei famílias humildes construindo casas. Elas tinham nas mãos documentos assinados pelo prefeito da época dando o aval para a ocupação. Isso se repetiu ao longo de décadas”, contou.
A adoção de políticas habitacionais e a elaboração de lei mais rigorosa seriam soluções. “A ocupação do solo precisa ser levada a sério com legislação e fiscalização que evitem novas ocupações irregulares”, afirmou Waleska. Minc acredita que a catástrofe vai acelerar o reassentamento de quem vive em áreas de risco. “Se não, serão vítimas de nova tragédia”. O DIA procurou as prefeituras de Petrópolis e Teresópolis sobre o assunto, mas não houve resposta.
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