Por Wojciech Moskwa
OSLO (Reuters) - Antes dos ataques mortais de sexta-feira feitos por um norueguês, em uma missão atribuída por si mesmo como para salvar o mundo cristão europeu do Islã, não era raro ver o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, usando transporte público para ir trabalhar e ministros importantes andando em Oslo sem guarda-costas.
Essa abertura pode ter chegado ao fim, depois do ataque devastador de um carro-bomba, com que Anders Behring Breivik atingiu os escritórios do primeiro-ministro, e do assassinato de jovens ativistas do Partido Trabalhista que participavam de uma festa em uma ilha.
Os ataques, em que pelo menos 93 pessoas foram mortas, também vão afetar o debate sobre a imigração na Noruega, mas é pouco provável que feche as janelas de uma das sociedades mais abertas da Europa.
"Teremos uma sociedade baseada em menos confiança e ficaremos um pouco mais ansiosos do que antes," disse Thomas Hylland Eriksen, um antropólogo da Universidade de Oslo.
Stoltenberg disse no domingo que a Noruega vai "seguir em frente", mas que haverá uma ruptura definitiva entre o país de antes e depois dos ataques.
"Mas tenho certeza que você também vai reconhecer a Noruega depois... Será uma Noruega aberta, uma Noruega democrática e uma Noruega onde tomamos conta uns dos outros", disse.
Breivik, que confessou ser o responsável pelos disparos e pelo carro-bomba, disse através do seu advogado que suas ações visavam "mudar a sociedade norueguesa" que ele via que estava sendo minada pelo multiculturalismo.
Analistas dizem que a brutalidade dos ataques esfacelaram a imagem da Noruega como uma nação pacífica, focada em ajudar na mediação ao redor do mundo.
"A lição que tiramos aqui é que fanáticos existem e continuarão a existir --e que a Noruega não está imune", disse a professora de Ciências Políticas Janne Haaland Matlary.
"Em termos de crueldade e maldade, isso pode ser comparado a Beslan --e é um fato assustador para os noruegueses", acrescentou ela, referindo-se ao massacre a uma escola no sul da Rússia, por militantes chechenos em 2004, em que 200 crianças foram mortas.
Em um país de baixa criminalidade onde um único assassinato vira notícia de primeira página dos jornais, o choque do tamanho da violência pode ofuscar qualquer mensagem sobre imigração que Breivik tentou passar, disse Matlary.
Até mesmo os políticos que normalmente defendem posições anti-imigração, vão procurar, acima de tudo, se distanciar de Breivik.
"Isso certamente vai atenuar os debates sobre imigração antes das eleições administrativas de setembro", disse Frank Aarebrot, analista político da Universidade de Bergen.
O maior massacre em solo norueguês desde a Segunda Guerra Mundial também fez com que os noruegueses, que inicialmente pensaram que isso tivesse sido obra de militantes islâmicos, parassem para pensar.
"É um choque duplo", disse Marit Saxeide, de 68 anos que dirige uma pequena loja no bairro de imigrantes de Oslo. "Noventa e nove por cento dos noruegueses imediatamente pensaram que fosse um ataque terrorista muçulmano. Quando se descobriu que não era, veio o segundo choque."
O número de imigrantes na Noruega quase triplicou entre 1995 e 2010, chegando a quase meio milhão, de uma população total de 4,8 milhões.
Como resultado, o Partido Trabalhista, que governa o país, pressionado pelo Partido Progressista, cuja política anti-imigração fez sucesso e ganhou o apoio de um em cada cinco noruegueses, precisou endurecer uma das políticas mais liberais de Europa.
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