Autor:João Bosco Leal
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Um amigo de infância me enviou um e-mail com um vídeo de um jovem que se apresentou em um programa de jurados e na mensagem anexa, sugeria que eu escrevesse sobre o mesmo. Apesar de já tê-lo assistido em outra oportunidade, me emocionei com a apresentação e com a possibilidade de visualizar claramente, em atitudes, a humildade e a arrogância dos seres humanos.
O jovem entrou no palco vestido de uma calça larga escura, uma camiseta preta com desenhos verdes no peito e tênis. Ao dizer que se chamava John Lennon da Silva provocou um comentário sarcástico de uma jurada, que disse já haver ouvido esse nome e outro disse que sabia ele era muito famoso e amigo do Paul e do Ringo.
Ao explicar que iria dançar, ela, em tom de gozação e apontando para suas roupas perguntou: assim? O rapaz timidamente respondeu que sim, que aquela roupa era do seu cotidiano e o que interessava era que iria apresentar o "Lago dos Cisnes", numa nova coreografia, baseada em Street Dance, a dança de rua dos jovens.
Ela insistiu, dizendo esperar que ele fizesse uma boa apresentação, pois aquele figurino não tinha 'nada a ver'. Outro perguntou se ele conhecia a peça em sua versão original, que era de um cisne se debatendo, agonizando até o final e executado nas pontas dos pés, por uma bailarina vestida toda de branco.
A arrogância desses jurados era visível, imaginando-se os únicos conhecedores da peça, quase chamando de ignorante o rapaz, simplesmente porque estava vestindo roupas comuns e pretas, humilhando-o com suas perguntas e não acreditando que alguém tão simples, vestido daquela maneira, pudesse apresentar algo que valesse a pena ser assistido por quem já viu a peça original, com todo o seu luxo e esplendor.
Depois de autorizado o rapaz iniciou sua apresentação e os jurados logo perceberam tratar-se de um gênio, tanto da dança quanto da coreografia. Seu corpo expressava, incontestavelmente, sem nenhuma possibilidade de dúvidas, movimentos de dor, angústia, do debater nos últimos momentos do Cisne.
O silencio e admiração dos jurados se fazia notar em seus olhares que agora viam algo por eles nunca imaginado, ainda mais vindo de um simples John, sem nenhuma vestimenta ou cenário apropriado para a grandeza da apresentação que realizava, diante de seus próprios olhos.
Ao término da apresentação, os dois homens e uma mulher sentada entre eles, estavam pasmos. Um, estava de pé e perguntando, ouviu do jovem que tinha 20 anos e era o próprio coreógrafo daquela versão. O que havia questionado se o rapaz conhecia a apresentação original estava chorando, com lágrimas escorrendo pelo rosto e não conseguia falar sequer para dar sua nota. Incrédula, a jurada retornou a palavra ao outro.
Ainda em pé, este se dirigiu ao jovem dizendo ser ele de uma grandeza rara, que sua apresentação foi emocionante e sugeriu que continuasse buscando novas maneiras de mostrar coisas já conhecidas e desejava que os telespectadores tivessem percebido a dimensão daquela apresentação e sentido a emoção que ele sentiu.
Infelizmente a grande maioria das pessoas sempre prejulga aqueles que não conhecem, antes mesmo de ouvir deles uma só palavra, muito mais pelo que podem ver, do que pelo que realmente eles são.
Nada questionam sobre seus conhecimentos, capacidade, experiência e cultura. Só vislumbram jóias, relógios, carros, casas, roupas, enfim, ostentação.
Os inteligentes, cultos, educados e muito capazes, nunca ostentam seus predicados e com sua humildade, acabam superando os arrogantes.
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