sábado, 2 de julho de 2011

Governo e Exército garantem que Chávez segue no comando do país

AFP PHOTO/PRENSA MIRAFLORES
Chávez admitiu que removeu um tumor

Por Andrew Cawthorne e Brian Ellsworth

CARACAS (Reuters) - Aliados militares e civis do convalescente presidente venezuelano, Hugo Chávez, garantiram na sexta-feira que ele continua dirigindo o país, apesar da sua prolongada ausência desde que viajou para Cuba a fim de retirar um câncer.

O general Henry Rangel Silva, comandante do Exército, e vários ministros vieram a público para reagir às especulações sobre um possível vazio de poder ou disputas políticas depois que Chávez, de 56 anos, revelou na noite de quinta-feira que ainda está recebendo tratamento depois da cirurgia.

Ele não disse quando pretende regressar de Cuba, para onde viajou em 10 de junho, nem especificou qual tratamento está recebendo, o que alimentou rumores de que as células cancerígenas teriam se espalhado, exigindo uma quimioterapia.

Inicialmente, o governo disse que ele havia retirado um "abscesso pélvico", e nos últimos dias a mídia já vinha especulando que ele teria um câncer de próstata.

A ausência do carismático líder, no poder desde 1999, desperta dúvidas sobre a capacidade dele de disputar um novo mandato em 2012, no que seria parte da sua estratégia declarada de governar até 2021.

Em meio às dúvidas sobre a duração da sua recuperação e de quem está governando o país enquanto isso, o vice-presidente Elías Jaua insistiu que Chávez mantém de Cuba o "pleno exercício da autoridade."

"Que ninguém tenha dúvidas - é Chávez quem está no comando aqui", ecoou o ministro da Energia, Rafael Ramírez.

Uma fonte próxima à equipe médica venezuelana que acompanha a recuperação de Chávez disse que o diagnóstico revelou um câncer que exigia um tratamento agressivo que poderá levar muitos meses.

Uma ala do Hospital Militar de Caracas estava sendo preparado para recebê-lo quando ele retornar ao país, disse a fonte. Não foi divulgado boletim oficial sobre a condição de Chávez na sexta-feira.

Ao mesmo tempo em que desejou pronta recuperação a Chávez, a oposição também acusou o governo de mentir a respeito da saúde dele. Os rivais argumentaram também que, pela Constituição, ele deveria delegar poderes em caso de ausência ou doença prolongada.

"Não sabemos quando o presidente vai voltar ... Pode haver uma enxurrada de processos (argumentando isso) nos tribunais", disse Ramón Aveledo, líder do bloco oposicionista Unidade Democrática.

O general Rangel disse que os militares, sustentáculo do governo esquerdista de Chávez, irão garantir a ordem constitucional durante a ausência do presidente. Falando à TV estatal, o comandante do Exército disse que Chávez irá regressar logo. "Ele está melhorando, está bem."

MINISTROS EM HAVANA

Para reforçar a tese de que Chávez continua no comando, a TV estatal exibiu na sexta-feira um vídeo em que o falante presidente aparece comandando uma minirreunião ministerial em Havana, na quarta-feira.

"Não devemos baixar a guarda nem por um só momento. Daqui para frente, em ritmo de vitória", disse Chávez no vídeo, em que ele comenta que sua recuperação inclui caminhadas diárias e uma dieta especial.

Os EUA, que acusam Chávez de governar de forma autoritária o país petroleiro, disse não ver ameaça imediata de instabilidade na Venezuela.

"Esta é claramente uma questão pessoal, algo com que ele e sua família estão lidando", disse em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner. "Somos solidários com isso. Mas não temos qualquer razão para crer que haja algo envolvendo a estabilidade de lá."

A doença de Chávez, no entanto, é claramente motivo de preocupação para a aliada Cuba, que fornece petróleo e ajuda financeira ao país comunista. Por outro lado, a possibilidade de declínio do chavismo anima os mercados.

"Vácuos políticos raramente devem ser encorajados, mas este pode levar a uma redução dos gastos públicos e pode aumentar a probabilidade de uma vitória da oposição nas próximas eleições, e portanto de um estilo de governo menos afeito ao confronto," disse Richard Segal, analista de mercados emergentes da Jefferies, em Londres.

(Reportagem adicional de Mario Naranjo, Daniel Wallis, Deisy Buitrago, Diego Oré, Eyanir Chinea e Girish Gupta, em Caracas; de Jeff Franks, em Havana; de Andrew Quinn, em Washington; e de Carolyn Cohn, em Londres)

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