Por Catherine Bremer
PARIS (Reuters) - A notícia de que o processo contra Dominique Strauss-Kahn por agressão sexual pode cair por terra atingiu a França como um raio fulminante nesta sexta-feira, suscitando a perspectiva do retorno dele à política francesa, embora provavelmente não em tempo hábil para a corrida presidencial de 2012.
Os socialistas, que até a prisão de Strauss-Kahn em maio o enxergavam como sua melhor chance de chegar ao poder, após anos na oposição, se alegraram com a notícia de que promotores em Nova York agora põem em dúvida a credibilidade da camareira de hotel que alegou que Strauss-Kahn tentou estuprá-la.
A virada dramática nos fatos reavivou a indignação dos partidários de Strauss-Kahn com a maneira como o ex-diretor-gerente do FMI foi mostrado publicamente pelas autoridades norte-americanas, algemado e com a barba por fazer, e preso na sombria penitenciária de Rikers Island, antes de ter uma chance de se defender.
Mas outros na França disseram que, mesmo que Strauss-Kahn seja inocentado, é possível que sua reputação já tenha sido prejudicada demais para que ele seja elegível, embora possa retornar à política gradualmente e assumir cargos mais baixos no governo.
"É o fim do pesadelo americano do ex-ministro socialista? Longe disso", refletiu o diário conservador Le Figaro, enquanto a França digeria a ideia de que o homem que, a seus olhos, passou de possível futuro presidente a aparente predador sexual em questão de horas possa ter sido falsamente acusado.
Duas fontes próximas do caso disseram que a credibilidade da camareira, imigrante de 32 anos da Guiné, na África ocidental, agora está em dúvida. O New York Times disse que os argumentos da promotoria correm o risco de desabar.
Os socialistas franceses, que desde a perda repentina de seu candidato preferido vêm se esforçando para apresentar um plano B para derrotar o conservador presidente Nicolas Sarkozy, disseram estar muito animados.
"Hoje estou pensando na integridade de um homem que foi relegado ao desprezo... e na notícia que esperamos que lhe possibilite restaurar sua honra", disse o líder interino do Partido Socialista, Harlem Desir.
"Precisamos de Dominique Strauss-Kahn, nosso país precisa de Dominique Strauss-Kahn. Esta é uma virada estarrecedora para nosso partido e nosso país", disse o deputado socialista Jean-Marie Le Guen, um dos aliados políticos mais estreitos do ex-diretor do FMI, prevendo que Strauss-Kahn será um ator chave nos próximos meses.
TERÁ TEMPO?
Strauss-Kahn era popular entre os eleitores da centro-esquerda, visto como democrata social modernizador e economicamente competente que possui muito mais experiência internacional que qualquer outro candidato socialista.
Mas analistas políticos dizem que, mesmo que ele seja inocentado e goze de uma onda de simpatia, a mácula causada a sua imagem pode durar meses, de modo que não é claro até que ponto ele poderia reforçar a esquerda na eleição.
"Sempre haverá pontos de interrogação pairando sobre ele", disse o professor de sociologia da Universidade de Estrasburgo Gerald Bronner. "Seu retorno poderia até mesmo ser negativo para os socialistas, já que, no curto prazo, o escândalo seria muito incômodo para eles."
Strauss-Kahn, que se encontra em prisão domiciliar em Nova York, vai comparecer diante do tribunal novamente na sexta-feira, e agora os promotores discutem a possibilidade de arquivar as acusações criminais graves feitas contra ele.
Os candidatos à eleição francesa de 22 de abril têm até meados de março para declarar suas candidaturas, de modo que, se for inocentado, Strauss-Kahn pode retornar à França em tempo para se candidatar.
Mas os candidatos na primária socialista precisam se registrar até 13 de julho, para a votação partidária que terá lugar em outubro, e é pouco provável que o processo possa ser suspenso a tempo para permitir a participação de Strauss-Kahn.
(Reportagem adicional de Marie Maitre, Jean-Baptiste Vey, Elizabeth Pineau, Alexandria Sage e Patrick Vignal)
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