Há exatos dez anos, os atentados terroristas contra os Estados Unidos deixaram o mundo atônito. Os ataques contra o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, nos arredores de Washington, mataram 2.753 pessoas, de diversas nacionalidades. O 11 de setembro marcou 2001 como o ano do terror e desencadeou as ofensivas militares contra o Afeganistão e o Iraque, onde ainda há tropas internacionais.
As armas usadas pelos terroristas foram quatro aviões comerciais, que pertenciam às duas maiores empresas aéreas do país. Em ações coordenadas, dois deles foram lançados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. O segundo, quando as imagens do primeiro ataque já rodavam o mundo, chocado com o que via. Pouco depois, a terceira aeronave colidiu com o Pentágono, em Washington. Voos foram suspensos e outros possíveis alvos, como a Casa Branca e o Departamento de Estado, começaram a ser evacuados.
Às 10h05 (11h05 no horário de Brasília), o edifício de 110 andares que simbolizava o poder americano começou a vir abaixo, cobrindo Manhattan com uma nuvem de poeira negra. Já o quarto avião sequestrado pelos terroristas caiu na Pensilvânia, após uma reação heroica dos passageiros. A ideia era jogá-lo contra o Capitólio.
Para o cientista político Amâncio Jorge de Oliveira, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), as avaliações no pós-11 de setembro não previram o real impacto das mudanças, que para ele foram “dramáticas”. “O fato é que a origem da mudança não está nos ataques terroristas, mas sim nas respostas aos ataques. As intervenções militares decorrentes dos ataques tiveram impactos profundos tanto em sua estrutura econômica, e por consequência em seu poder material, quanto na relação com o restante do mundo. Os EUA, ao longo desses dez anos, veem uma contínua corrosão de seu poder de influência”, explica.
Outro cientista político, também do quadro docente da USP, compartilha a linha de raciocínio. O professor João Paulo Cândia Veiga acha que as ofensivas militares foram um “desastre”. “O combate armado contra o terrorismo não produz resultado. As guerras tiveram resultados ambíguos e o mundo inteiro paga indiretamente. O custo é terceirizado pelo dólar”, avalia.
Veiga classifica o 11 de setembro como “uma espécie de exceção à regra”. “O terrorismo é um inimigo sem rosto, uma guerra travada com ninguém”, diz. “É claro que o mundo não está mais seguro, o mundo estaria mais seguro se os recursos militares tivessem sido destinados à inteligência e à tecnologia contra o terrorismo, para a prevenção.”
Em meio à ameaça de uma nova crise econômica mundial, uma estimativa ponderada é que os Estados Unidos já tenham desembolsado US$ 1 trilhão nos conflitos, valor que fica abaixo apenas do gasto na Segunda Guerra Mundial. Já para os autores do livro “A guerra de US$ 3 trilhões, o custo real da guerra do Iraque”, professores da Universidade de Harvard, esse é o real montante consumido. Eles calculam que o número cresça mais US$ 1 trilhão, com despesas com militares feridos, entre outras, que vão fazer com que a dívida americana fique ainda mais descontrolada.
Quase dez anos depois das guerras iniciadas por George W. Bush, só em maio passado os americanos chegaram até o terrorista Osama Bin Laden, considerado o principal mentor dos atentados. Quem anunciou sua morte, entretanto, foi o democrata Barack Obama, que na sequência até viu sua aprovação subir, mas teve o efeito encoberto pelos problemas econômicos e está com a reeleição ameaçada.
Outro impacto a ser mensurado é em relação ao Islã, que ainda enfrenta resistência. O sheik Khaled Taky El Din, presidente do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil, afirma que os atentados foram chocantes para a comunidade muçulmana, cujo livro sagrado, o Alcorão, condena atos de violência. “O Alcorão diz que matar uma pessoa é como matar toda a humanidade, e dar à vida é como dar à vida toda a humanidade”, compara.
Para o professor Oliveira, a morte de Bin Laden teve um impacto pequeno, tanto para a segurança dos americanos quanto na recuperação do prestígio do país no cenário internacional. Em sua avaliação, o Brasil ocupou parte do espaço deixado e, junto de outros emergentes, ganhou mais influência na governança global, ainda que bem atrás da China.
Segundo uma pesquisa divulgada na semana passada, mais da metade dos americanos entrevistados acha que o país hoje oferece mais segurança contra o terrorismo que antes dos atentados. Cerca de 70% deles, no entanto, se queixam que a nação é menos respeitada e que têm menos liberdades pessoais.
Enquanto a população acha que ganhou em segurança (apesar de perda de respeito), as guerras geradas na luta contra o terrorismo ainda não terminaram. Apenas no Afeganistão, há 100 mil soldados americanos. No Iraque, onde não foram encontradas as armas de destruição em massa que deram respaldo à ofensiva, as tropas de combate já foram retiradas, mas milhares de militares ficaram no país para treinar as forças locais.
Nas montanhas afegãs e nos desertos iraquianos, 7,5 mil soldados de 20 países perderam a vida. Já o número de mortes de civis é bem maior. Na primeira guerra, a mais longa da história americana, foram quase nove mil. Na outra, as estimativas variam entre 100 mil e um milhão.
No Brasil, em sua avaliação, não foi registrada discriminação contra o Islã, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, onde para Khaled o problema diminuiu, mas ainda persiste. “Aqui não houve preconceito, pelo contrário, há hoje um entendimento maior sobre a cultura e a religião muçulmana, com apoio do governo. O Brasil, graças a Deus, é diferente de outros países, é um lugar com muitos imigrantes, de diferentes lugares”, pondera. O sheik finaliza: “Qualquer religião, qualquer povo, tem radicais. Não se pode julgar uma comunidade por um fato”.
Há dez anos, os atentados deram início a uma guerra contra o terror, que por sua vez levou um país a lutar contra o caos em suas finanças. Fica a pergunta: quem venceu esta guerra? Os terroristas, que viram ruir a hegemonia da nação mais poderosa do mundo? Ou os Estados Unidos, que perderam milhares de vidas, se atolaram em dívidas e, mesmo que em menor escala, ainda convivem com o medo?
Fernanda Foggiato
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