domingo, 23 de janeiro de 2011

Hora da verdade

O retorno de Michael Schumacher à Fórmula 1, anunciado no fim de 2009, dividiu as opiniões dos especialistas em automobilismo. Boa parte dele achava que a volta do heptacampeão tinha potencial para dar certo, apesar dos três anos de aposentadoria. Só que muita gente (eu, inclusive) acreditava que seria um risco para o alemão, que poderia arriscar todo seu currículo na categoria. A temporada ruim pela Mercedes reforçou a opinião deste último grupo. Chegou a ser cogitado mais um afastamento, mas Schumi está confirmado em 2011 na equipe alemã. E a grande pergunta agora é: como andará Schumacher neste ano?

Antes de falar sobre 2011, porém, vamos às causas do fracasso de Schumacher em 2010. Primeiro, é claro, a inatividade de três anos: o alemão enfrentou pilotos muito mais jovens do que ele e um regulamento completamente diferente do ano de sua aposentadoria. As regras, aliás, foram outro problema, principalmente a que reduziu a largura dos pneus dianteiros e aumentou a instabilidade nesta área, ponto fraco do alemão, que gosta de carros saindo mais de traseira. Para completar, a Mercedes, que havia comprado a campeã Brawn GP em 2009, não fez um bom modelo. Nico Rosberg acabou se dando melhor e deu um baile no heptacampeão.

Acostumado aos holofotes, Schumacher não parece ter lidado bem com o fracasso em sua temporada de retorno. Nas últimas corridas do ano, o alemão aparecia muito na quinta e na sexta, mas não era muito procurado. Em Interlagos e Abu Dhabi, por exemplo, desfilava pelos paddocks sem ser incomodado. No sábado e no domingo, a postura era completamente diferente: evitava desfilar pelos boxes, a não ser nos momentos estritamente necessários. Na última corrida do ano, nos Emirados Árabes, sequer apareceu para a foto oficial após os treinos livres de sexta, o que deixou Bernie Ecclestone, chefe comercial da Fórmula 1, muito irritado.

Nada que boas férias não possam resolver, não é mesmo? Em 2011, Schumi estará em um momento crucial de sua carreira. Terá de mostrar um desempenho melhor do que em 2010, sob pena de sua aposentadoria definitiva. Esta é a grande burrada de seu retorno: sem nada mais a ganhar, parecia óbvio que o alemão chegaria nesta encruzilhada, tendo de provar a todos, novamente, o talento que o levou a 91 vitórias e sete títulos mundiais. Ele, entretanto, terá de superar barreiras. O melhor piloto da era da estratégia, com paradas para reabastecimento cirúrgicas e voltas mais rápidas antes delas, precisa mostrar que sabe lidar com um carro com tanque cheio no início e com o desgaste pronunciado dos pneus no fim dos GPs, dois de seus grandes problemas no ano passado. Além disso, precisa superar um companheiro extremamente motivado. Não eram problemas para o Schumacher dos áureos tempos, mas serão para o Schumacher de agora?

É uma pergunta que só começará a ser respondida no GP do Bahrein, no dia 13 de março. Quanto ao carro, o panorama é animador: a Mercedes prometeu que o modelo deste ano será melhor – até porque seria complicado piorar. Apesar de Ross Brawn, chefe da equipe, negar que esteja desenvolvendo o W02 para Schumi, é difícil acreditar que o heptacampeão não será privilegiado de alguma forma. Os pneus também devem ser um auxílio, já que ele se deu bem nos testes iniciais com os Pirelli, mais aderentes, realizados no fim do ano passado em Abu Dhabi. Para mim, acho difícil vermos uma repetição do péssimo desempenho dele em 2010. Acho que ele mostrará evolução, só não sei se no patamar do que a equipe e a Fórmula 1 espera. E ainda poderemos ver um fim melancólico para a carreira de Schumacher em 2011. A conferir.

por Rafael Lopes/G1


Nenhum comentário: