segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Fantástico mostra imagens exclusivas do escândalo em Dourados, no MS

Vinte oito pessoas foram presas e indiciadas. Entre elas, o vice prefeito, quatro secretários municipais e nove dos doze vereadores. O prefeito Ari Artuzi também está na cadeia.
Numa cela pequena, deitado num colchonete no chão, Ari Artuzi lê um livro sobre budismo. Imagens exclusivas mostram o prefeito de Dourados, a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, preso numa delegacia de Campo Grande, a capital do estado.

Acusado de comandar uma rede de corrupção Ari Artuzi está na cadeia desde quarta-feira (01). Segundo a investigação, ele desviava dinheiro público e fraudava concorrências públicas. Os empresários contratados irregularmente eram obrigados a pagar propina.

De acordo com a Polícia Federal, as comissões ilegais, de pelo menos 10% do valor das obras, eram distribuídas entre os acusados.

Em uma gravação, o prefeito está em casa e recebe R$ 10 mil. Ari Artuzi dá risada. Debocha das promessas feitas para a população e que lhe renderam, segundo as investigações, uma fortuna ilícita.

“O asfalto é para todo povo que mora aqui, inclusive para mim, que passo aqui”, diz ele.

Veja em vídeo uma cadeia feminina de Dourados. No local, as mulheres não ficam em celas. Uma secretária de administração de Dourados, acusada de participar do esquema de corrupção e a mulher do prefeito também estão nesta cadeia.

As investigações mostram que a primeira-dama, Maria Artuzi, também pegava dinheiro desviado dos cofres públicos.

Em um vídeo, ela recebe R$ 10 mil e acha pouco. “Rapaz, isso aqui não vai dar nem para o primeiro escalão”, diz a primeira-dama.

Ao todo, vinte oito pessoas foram presas e indiciadas. Entre elas, o vice prefeito, quatro secretários municipais e nove dos doze vereadores de Dourados. O Fantástico teve acesso a mais de seis horas de gravações que comprometem os políticos.Carlinhos - o vice-prefeito - recebe R$ 3 mil. Ano passado, o vice-prefeito já tinha sido preso, acusado de corrupção. Ele respondeu em liberdade.

Conversas dele na época foram gravadas: “Não podia arrumar pelo menos R$ 2 mil pra mim? Eu não tenho nada aqui, Carlinhos”, dizia.

Em outra gravação, o mesmo empresário pede o número da conta bancária do vice-prefeito.Segundo a polícia, para depositar o dinheiro da propina. Quem aparece nas imagens fazendo as negociações e os pagamentos é o secretário de governo de Dourados.

Em maio, logo depois que assumiu o cargo, ele procurou a Polícia Federal para denunciar o esquema: se tornou uma espécie de agente policial infiltrado na prefeitura.“Essa operação só foi possível graças a coragem do secretário. Por que ele poderia muito bem ter acobertado isso ou levado embora com ele”, disse o delegado da Policia Federal Bráulio César Galloni.

O secretário - que é formado em jornalismo - recebeu autorização da Justiça para fazer as filmagens e usou equipamentos da Polícia Federal.

“Fui orientado a gravar todos os pagamentos. A efetuar esses pagamentos para construir prova. O prefeito uma vez pegou e me entregou R$ 15 mil e esse dinheiro foi entregue a Polícia Federal. Foi o único dinheiro que ele me entregou”, disse o secretário Eleandro Passaia.

Segundo o secretário, a maior parte do dinheiro ilegal ficava para o prefeito Ari Artuzi.

“Ele desviava, pelo menos, meio milhão de reais por mês. A folha de pagamento dos vereadores era de R$ 170 mil”, afirma o secretário Eleandro Passaia.

Ele acusa os vereadores de receber propina para aprovar os projetos de interesse do prefeito. Em imagens inéditas, dois vereadores desconfiados, pedem que o dinheiro seja entregue no banheiro.

Segundo o secretário de governo, um deles é o vereador Zezinho da Farmácia. Em outra gravação, Zezinho é menos cauteloso, e comemora o pagamento. Era mais do que ele imaginava.

Entre os vereadores flagrados, está Sidlei Alves, presidente da Câmara de Dourados.

Mais uma cena. Segundo as investigações, o presidente da Câmara aceita propina até quando o pagamento é em cheque pré-datado. E ele quer saber quando vai embolsar o resto.

A Polícia Federal apurou que o dinheiro era desviado de todos os setores da prefeitura, como transportes, obras, educação e saúde. Parte da verba que deveria ser aplicada em um hospital, por exemplo, era desviada e a compra dos remédios, superfaturada. E é justamente a área da saúde um dos principais problemas de Dourados.

“A gente não consegue médico, não consegue vaga no hospital”, diz a dona de casa Aparecida Alves Cruz.

“Se você vê a situação lá dentro, está horrível. Só você vendo”, conta a dona de casa Viviane Felix Menti.
“O prefeito municipal desviou R$ 10 mil da secretária de Saúde e, com esse dinheiro, usou R$ 9 mil pra pagar uma cirurgia estética da primeira-dama”, conta Eleandro Passaia.

O advogado do prefeito e da primeira-dama comentou a imagem em que Ari Artuzi pega R$10 mil.

“Isso não significa que esse dinheiro é do município. Ele diz que não participou de qualquer ato de corrupção, não lesou o município, não praticou qualquer ato que tenha causado prejuízo a administração publica”, conta o advogado Carlos Marques.

Um outro advogado defende quatro políticos de Dourados. Entre eles, o presidente da Câmara, Sidlei Alves, e o vereador Zezinho da Farmácia. Ele põe em dúvida as gravações.

“Vou submeter esses vídeos, essa produção a perícia para saber se realmente esses vídeos são autênticos. Quando, como e em que circunstancias foram produzidos”, afirma o advogado João Arnar Ribeiro.Dos vinte e oito presos esta semana, 14 já foram soltos pela Justiça. Como o prefeito, o vice e o presidente da Câmara ainda estão na cadeia, um juiz foi nomeado prefeito interino de Dourados. O secretário de governo aceitou o convite para continuar no cargo.

“Aqueles que se colocaram na posição dos que foram presos ou que compactuam com tudo isso com certeza vão encontrar em mim um traidor. Paciência. Se as pessoas de bem entenderem o que eu fiz e que eu fiz por causa da honra, isso pra mim é o suficiente”, finalizou o secretário de governo de Dourados, Eleandro Passaia.

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