Por Clodoaldo Martins*
Quando o filósofo inglês Francis Bacon escreveu a obra “Ensaio ou Conselhos Civis e Morais”, uma das frases ficou célebre e comum em artigos ou citações, quando abordamos a distribuição de renda: “O dinheiro é como o adubo, não é bom se não for distribuído”. Mas aqui faço um parênteses para fazer uma interpretação diferente da já conhecida: o adubo seriam os investimentos e, investir em apenas um negócio é medida certa para o insucesso. Logo, é preciso diversificar para garantir que o “dinheiro” sempre seja bom, ou seja, para que sempre exista rentabilidade.
A receita de diversificar a produção já é conhecida, mas é preciso se lembrar diariamente dela. Porém, para ter um ou mais negócios é preciso investimento e também projetos de educação para que empresários e lideranças empreguem capital em outras áreas e mantenham seus empreendimentos sempre rendendo. O programa Mais Floresta, implantado em Mato Grosso do Sul, em julho deste ano, tem essa responsabilidade: diversificar a renda e a produção para os produtores rurais e dar as ferramentas para que eles o possam fazer.
Mato Grosso do Sul é conhecido pela pujança da pecuária e pela produção de soja e milho, mas em algumas regiões do Estado apenas uma atividade econômica é desenvolvida por propriedade. São geralmente as produções nas regiões Norte e Leste do Estado, áreas consideradas como oportunidades de investimento na área florestal, conforme o Plano Estadual de Florestas desenvolvido pelo Governo do Estado.
Com uma política clara e com empresas como a Fibria e Eldorado se instalando nessas regiões – isso sem contar a demanda já vigente de madeira para serraria, carvão e lenha -, a produção de eucalipto e seringueira em Mato Grosso do Sul já tem mercado certeiro no Brasil. Hoje a demanda mundial para madeira é de 3,3 bilhões de metros cúbicos por ano e de borracha é de aproximadamente 9 milhões de toneladas. Em 2007, conforme os dados da Reflore-MS, Mato Grosso do Sul plantava aproximadamente 227 mil hectares de florestas. Em 2011, o Estado deve atingir um total de 500 mil hectares, sendo quase exclusivamente de plantio de eucalipto. Para 2030, a expectativa é que MS tenha 1 milhão de hectares plantados.
É bom lembrar que não serão abertas novas áreas. O objetivo é que regiões com pastagens degradadas, com baixa lotação, sejam substituídas por eucalipto e seringueiras. Outra vantagem dessa produção é que, conforme a legislação estadual (Lei 3.628), a recomposição de reserva legal em Mato Grosso do Sul pode sim ser feita com 50% por plantas exóticas. Ou seja, plantar seringueira também conta para a manutenção da reserva legal.
Há que se considerar também, que, ao substituir uma área de pastagem degradada por um cultivo florestal, isso permite que as características químicas e físicas do solo sejam melhoradas, seja pelos tratos culturais para implantação do empreendimento, seja pelo plantio de árvores na área, fazendo a cobertura do solo.
Por outro lado, o produtor rural precisa estar atento quanto as demandas de madeira. A proximidade com as indústrias consumidoras de eucaliptos conta muito para quem quer investir. Se sua propriedade estiver há mais de 150 quilômetros de distancia de seu comprador é preciso observar qual o foco, se for para celulose e a distância é superior a esse raio, há riscos. Existem diferenças também no eucalipto para a produção de celulose, de carvão ou para postes, por exemplo.
Já a produção de borracha tem um mercado bem diferente. As distâncias não dificultam a compra, uma vez que existe uma demanda represada. O Brasil não é auto-suficiente na produção de látex e é obrigado a importar da Ásia 66% do que consome, e esse percentual só tende a subir, impulsionado principalmente pela indústria automobilística.
Atualmente, a estimativa do Senar/MS é que existam em MS, aproximadamente 12 mil hectares de seringueiras. Para 2030, com o incentivo do governo Estadual e do programa Mais Floresta a expectativa é de que até lá mais de 50 mil hectares de seringueiras estejam plantados, classificando MS como o segundo maior produtor nacional de látex, ficando atrás apenas de São Paulo. A produção mundial de borracha é de 8 milhões de toneladas e há um déficit de 1 milhão de toneladas por ano. O principal atrativo é o valor pago pela borracha. Hoje um hectare de seringueira em fase de sangria tem um rendimento bruto mensal de cerca de R$ 1.200,00.
As florestas são e serão um bom negócio, mas como o projeto incentiva a não colocar todos os ovos numa única cesta, exemplos como a produção consorciada são incentivados pelo Mais Floresta. A chave de diversificar é a possibilidade de ganhar com duas ou mais atividades. Durante os workshops apresentado pelo programa nas cidades do interior do MS, os consultores apontam quais as produções podem ser consorciadas. É o caso, por exemplo, do cultivo de madeira associado a pastagem.
A análise financeira da produção silvipastoril demonstra que a renda do produtor pode ser três vezes superior do que com a pecuária tradicional. Se a madeira produzida for para a serraria o ganho do produtor pode ser dez vezes maior.
A diversificação de atividades é uma proposta de viabilização da propriedade rural considerada. É a melhor forma de evitar incertezas e vulnerabilidades de clima, mercado, logística e pragas. A desenvolver na prática o ditato “Não coloque todos seus ovos numa cesta só”.
* Clodoaldo Martins é administrador de empresas e superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul (Senar/MS).
Marcele Aroca/Gerente de Comunicação
Jornalista MTB 071/MS SATO COMUNICAÇÃO
Telefone: (67) 3042-0112
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