A fotografia das urnas nas eleições de 2010 é um quadro muito diferente daquele propalado por pesquisas de diversos ramos, que apontam um presidente da República com índices estratosféricos de popularidade. Com 44 milhões de votos destinados ao candidato oposicionista, o que se pode ver é que quase a metade dos eleitores brasileiros disse não ao governo Lula, demonstrando claramente insatisfação com os rumos do País, que agora será chefiado pela petista Dilma Rousseff.
Os brasileiros, através de um grito retumbante, rejeitaram a unanimidade e o tom messiânico de se fazer política ao garantir legitimidade a oposição, que fez 10 governadores, e chefiará mais da metade da população no nível estadual, bem mais da metade do PIB brasileiro.
Os milhões de brasileiros que se opuseram à candidatura oficial mostraram nas urnas que não tolera uma máquina pública pesada e ineficiente, que espanca o cidadão brasileiro com tributos elevados e serviços precários. Disseram não a política dúbia do governo Lula que fala em valores democráticos de um lado, enquanto afaga ditadores perversos do outro; que diz preservar a ordem jurídica do País, e põe o boné do MST com entusiasmo; que fala em justiça social, mas patrocina políticas que desprezam o mérito e o talento ao dar voz a militantes que só servem para balançar a carteirinha de um partido político.
Práticas que o PT condenava no passado, como alianças espúrias e as relações fisiológicas de poder, são hoje escancaradamente utilizadas tudo em prol de um projeto particular, que confunde partido e governo. Nos oito anos de governo do PT, fatos como quebra de sigilo fiscal de cidadãos de bem, invasão de terras pelo MST, tentativas de cercear a liberdade de imprensa, atropelamento das leis vigentes para beneficiar companheiros, tráfico de influência, solapamento do Parlamento com a edição de abusivas medidas provisórias e banalização da corrupção nos órgãos públicos, tornaram-se corriqueiros e cotidianos, numa clara relativização dos valores da democracia.
Com a economia em crescimento por conta de fatores externos e com uma classe média anestesiada pelo aumento da renda e do consumo, é duro enfrentar a máquina de um governo que serve a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Não é fácil superar a barreira de distribuição abusiva de cargos, principalmente quando facções tomam de assalto o Estado para fins particulares. Ou quando os sindicatos e os ditos movimentos sociais se reduzem a meros coadjuvantes do poder central.
No atual cenário, com uma bancada oposicionista menor no Congresso Nacional, é indispensável o cumprimento da regra do jogo democrático pelo partido que perde as eleições, que é fiscalizar, criticar e denunciar o partido vencedor, que vai para o poder.
Cabe à oposição mostrar os equívocos do caminho escolhido pelo governo eleito e elaborar um projeto alternativo para o Brasil, que abranja os interesses de todas as regiões e de todos os brasileiros. E refutar o que tem feito o atual governo que, em nome do “bem comum”, fomenta a criação de políticas que tentam dividir o Brasil entre grupos rivais, incitando disputas sociais e raciais que poderiam ser evitadas.
Para o bem da saúde de toda nação democrática, a existência de um governo só faz sentido com uma oposição firme e disposta a fazer cumprir a liturgia da alternância de poder. Isso não significa fazer oposição por simples birra ou oportunismo. E sim cumprir com responsabilidade, união e coragem esta função delegada por tantos brasileiros insatisfeitos com tudo o que está aí.
Por:Murilo Augusto de Medeiros. Estudante da UnB (Twitter: @murilomedeiros)
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