Na década de 1960, Helen Singer Kaplan, psicanalista, foi chefe, entre 1964 e 1969, dos Serviços Psicossomáticos e de Ligação do New York Medical College-Metropolitan Hospital Center, que atende uma das áreas mais pobres da cidade de Nova Iorque, o gueto de East Harlem. Nesse período, muitos pacientes procuravam auxílio nas clínicas de psicossomática do hospital, sendo que os obstáculos para terapia eram enormes. Os pacientes não tinham acesso à psicanálise, nem mesmo à psicoterapia, e não era possível a terapia de casal porque os homens não podiam se ausentar semanalmente do trabalho. A opção, para Kaplan, estava entre nenhum tratamento ou tratamento de acordo com as precárias situações da realidade.
Passa, então, a sugerir que os problemas sexuais, embora possam ser manifestações de profundo distúrbio emocional, não se apresentam invariavelmente assim. Ocorrendo, também, em pessoas com perfeito funcionamento em outras áreas da vida, como a profissional ou a social. E em muitos casos, preconiza que as disfunções sexuais têm suas raízes em problemas imediatos, como medo de não satisfazer as exigências reais ou imaginárias. Sua proposta de trabalho teve objetivos limitados ao alívio da disfunção sexual. Sua proposta limitava-se, às dificuldades sexuais, classificadas da seguinte maneira: disfunção erétil, inibição do desejo, ejaculação precoce e retardada, nos homens; e disfunção orgásmica, vaginismo e inibição do desejo, nas mulheres.
Kaplan alega que muitos autores consideram as disfunções sexuais, como psicopatologias que só podem ser solucionadas com tratamentos longos e caros. Sua posição era, entretanto, bastante diversa, em função dos resultados terapêuticos obtidos com seus pacientes do East Harlem. Entendia que a cura seria mais acessível do que acreditavam os terapeutas de modo geral. Uma de suas principais contribuições foi a proposta do modelo trifásico da resposta sexual humana: desejo, excitação e orgasmo.
Atualmente, Rosemary Basson propõe o modelo circular de resposta sexual humana, diferente do modelo de Masters e Johnson e de Kaplan. Sugere que a resposta sexual tem uma variedade diversificada na sua curva, não seguindo o modelo desejo, excitação e orgasmo, que preconiza que, durante as relações sexuais, o percurso seja uma parabólica iniciando com desejo, para depois se excitar e completar a relação com o orgasmo. O modelo circular sugere que os momentos de intimidade sexual podem começar com o casal excitado, como é comum ao acordar, para depois irem se desejando e que, numa relação sexual, o orgasmo não significa uma relação completa, como a falta dele não quer dizer que tenha sido um encontro sexual frustrado ou insatisfatório. Por isso, fala em modelo circular, que não tem necessariamente um começo ou um fim pré-estabelecido.
Não propõe nenhum tratamento novo, mas afirma que as medicações são ineficientes em disfunções sexuais de causas psicológicas. O trabalho de Basson, embora seguindo a abordagem comportamental, introduz claramente a influência dos valores culturais nas condutas sexuais de homens e mulheres, propondo que as diferenças entre eles, em relação à vida sexual, são advindas da cultura. Introduz, portanto, uma importante modificação num campo de conhecimento no qual se mantinha hegemônica a concepção de que a vida sexual seria fundamentalmente forjada pela biologia e a fisiologia. Salienta, também, a importância do papel terapêutico da psicologia em relação às dificuldades sexuais, insistindo em que as medicações são ineficientes no tratamento de problemas de homens que não apresentam problemas físicos nos genitais, nem apresentam problemas de saúde capazes de afetar a esfera sexual, como em muitos casos de impotência.
Ao final deste brevíssimo percurso histórico das últimas décadas, parece justificável afirmar que, embora todos os autores citados tenham se dedicado à pesquisa e à clínica da sexualidade, faz falta evidente um entendimento sobre as dificuldades sexuais como sofrimento existencial. Ficará claro que, se bem alguns estudiosos tenham se referido, com ênfase maior ou menor, à causalidade psicológica das dificuldades sexuais, será na esteira da perspectiva inaugurada por um freudismo dramático que a articulação entre psicanálise e dialética, realizada por José Bleger, psicanalista latino-americano, comprometido com as questões sócio-culturais criará condições propícias à abordagem dessas dificuldades como sofrimento humano.
Paulo César Ribeiro Martins
Professor da UEMS/FIPAR/AEMS
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP
Passa, então, a sugerir que os problemas sexuais, embora possam ser manifestações de profundo distúrbio emocional, não se apresentam invariavelmente assim. Ocorrendo, também, em pessoas com perfeito funcionamento em outras áreas da vida, como a profissional ou a social. E em muitos casos, preconiza que as disfunções sexuais têm suas raízes em problemas imediatos, como medo de não satisfazer as exigências reais ou imaginárias. Sua proposta de trabalho teve objetivos limitados ao alívio da disfunção sexual. Sua proposta limitava-se, às dificuldades sexuais, classificadas da seguinte maneira: disfunção erétil, inibição do desejo, ejaculação precoce e retardada, nos homens; e disfunção orgásmica, vaginismo e inibição do desejo, nas mulheres.
Kaplan alega que muitos autores consideram as disfunções sexuais, como psicopatologias que só podem ser solucionadas com tratamentos longos e caros. Sua posição era, entretanto, bastante diversa, em função dos resultados terapêuticos obtidos com seus pacientes do East Harlem. Entendia que a cura seria mais acessível do que acreditavam os terapeutas de modo geral. Uma de suas principais contribuições foi a proposta do modelo trifásico da resposta sexual humana: desejo, excitação e orgasmo.
Atualmente, Rosemary Basson propõe o modelo circular de resposta sexual humana, diferente do modelo de Masters e Johnson e de Kaplan. Sugere que a resposta sexual tem uma variedade diversificada na sua curva, não seguindo o modelo desejo, excitação e orgasmo, que preconiza que, durante as relações sexuais, o percurso seja uma parabólica iniciando com desejo, para depois se excitar e completar a relação com o orgasmo. O modelo circular sugere que os momentos de intimidade sexual podem começar com o casal excitado, como é comum ao acordar, para depois irem se desejando e que, numa relação sexual, o orgasmo não significa uma relação completa, como a falta dele não quer dizer que tenha sido um encontro sexual frustrado ou insatisfatório. Por isso, fala em modelo circular, que não tem necessariamente um começo ou um fim pré-estabelecido.
Não propõe nenhum tratamento novo, mas afirma que as medicações são ineficientes em disfunções sexuais de causas psicológicas. O trabalho de Basson, embora seguindo a abordagem comportamental, introduz claramente a influência dos valores culturais nas condutas sexuais de homens e mulheres, propondo que as diferenças entre eles, em relação à vida sexual, são advindas da cultura. Introduz, portanto, uma importante modificação num campo de conhecimento no qual se mantinha hegemônica a concepção de que a vida sexual seria fundamentalmente forjada pela biologia e a fisiologia. Salienta, também, a importância do papel terapêutico da psicologia em relação às dificuldades sexuais, insistindo em que as medicações são ineficientes no tratamento de problemas de homens que não apresentam problemas físicos nos genitais, nem apresentam problemas de saúde capazes de afetar a esfera sexual, como em muitos casos de impotência.
Ao final deste brevíssimo percurso histórico das últimas décadas, parece justificável afirmar que, embora todos os autores citados tenham se dedicado à pesquisa e à clínica da sexualidade, faz falta evidente um entendimento sobre as dificuldades sexuais como sofrimento existencial. Ficará claro que, se bem alguns estudiosos tenham se referido, com ênfase maior ou menor, à causalidade psicológica das dificuldades sexuais, será na esteira da perspectiva inaugurada por um freudismo dramático que a articulação entre psicanálise e dialética, realizada por José Bleger, psicanalista latino-americano, comprometido com as questões sócio-culturais criará condições propícias à abordagem dessas dificuldades como sofrimento humano.
Paulo César Ribeiro Martins
Professor da UEMS/FIPAR/AEMS
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP
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