sexta-feira, 7 de maio de 2010

O filho do pai

Lendo um dos maiores jornais do país, tomei conhecimento do suposto envolvimento de Romeu Tuma Júnior, Secretário Nacional de Justiça, com Li Kwok Kwen, também conhecido como Paulo Li, e apontado como um dos chefes da máfia chinesa em São Paulo. Comecei então a pensar em seu pai, Romeu Tuma, a imaginar sua dor, a vergonha, e dele me apiedei.

Um pai, por pior e mais irresponsável que seja, instintivamente, começa a gostar de seu filho imediatamente após saber de sua fecundação, e espera, ansioso e preocupado, por seu nascimento.

O pai vai dar carinho e amor a esse filho, vai acordar diversas vezes com seus choros, vai correr durante a noite para o médico, tentando saber o porquê de seu filho estar chorando e com febre.

O pai vai se preocupar em não perder o emprego, e a trabalhar cada vez mais, pois agora precisa alimentar, vestir e educar seu filho, se possível em uma escola particular, mesmo custando os olhos da cara. Quer sempre que o filho seja melhor que ele, que tenha um futuro mais confortável, de melhor qualidade e com maior fartura.

O pai vai ficar extremamente feliz ao ver seu filho dar as primeiras pedaladas na bicicleta que comprou com o restinho de suas economias e ainda ficou devendo algumas prestações. Vai contar para todos os amigos como o pirralho está indo bem na escola e já tem a primeira namoradinha. Vai sofrer junto as angústias da aprovação ou não em um vestibular, torcendo para que o filho seja aprovado em uma Universidade Federal, para que os custos dessa formação se tornem possíveis.

Entretanto, alguns não têm essas satisfações, esses prazeres, por motivos diversos, como o seu filho haver se tornado, por opção própria, um drogado, um bandido, ladrão, ou então um corrupto, como supostamente estaria ocorrendo com Romeu Tuma Júnior.

Ainda assim, normalmente, o pai continua amando seu filho, participando com ele, sofrendo junto, buscando um bom advogado para defendê-lo, visitando-o na prisão, buscando-o na rua de madrugada após haver se drogado, tentando tirá-lo do vício, investindo agora todas as suas economias em um tratamento clínico que, ele mesmo sabe, dificilmente dará certo, pois nem sempre conta com a vontade do próprio interessado em sair do vício.

Esse é o pai que sempre perdoará e acolherá seu filho, e sempre será seu melhor amigo, por mais erros que tenha cometido e desilusões que tenha lhe causado. Porque o pai sabe que, mesmo doente, drogado ou ladrão, ele ainda é seu filho, sua semente, através do qual sempre sonhou se perpetuar na terra, ensinando-lhe desde cedo sobre moral, ética e suas experiências vividas.

A visão de que seu filho não se tornou o que esperava, mas sim um bandido ou viciado, é, certamente, um dos piores sentimentos que um homem pode ter, e mesmo assim o pai continua perdoando-o, amando-o.

Esse sentimento só não é o pior, por existir a possibilidade da perda desse filho, o que vai contra tudo o que se espera da natureza, de levar primeiro os mais velhos. Vai contra a preservação da espécie, a ordem natural das coisas, enfim, de tudo. É uma dor indescritível e incurável.

Nada dói tanto como um filho morto. E, apesar disso, esta ainda não é a pior dor. A pior dor é a daquele que, por vontade própria, sacrifica seu único filho para salvar a humanidade, como fez DEUS.
João Bosco Leal
www.joaoboscoleal.com.br

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