segunda-feira, 29 de março de 2010

Os que não têm para dar

Depois de dezoito meses isolado, ou quase, em decorrência de um acidente que me deixou impossibilitado de locomover-me, comecei a pensar sobre alguns valores, que antes deste entendia muito importantes, e que continuo achando, mas que me deixaram decepcionado, principalmente quanto ao comportamento humano.

Alguns que pensávamos amigos nunca o foram e, em compensação, muitos que imaginávamos não sê-lo o são de verdade e com muito maior alegria e profundidade. Parentes, tanto quanto os “amigos”, uns continuam sendo e outros verdadeiramente se mostram.

Passei por muitos questionamentos internos em relação a isso. Puxa vida, sicrano, beltrana, para quem um dia havia feito isso ou aquilo, me dedicado, lutado por, agora nem telefonam, aparecem ou algo semelhante. Fazia até uma brincadeira, ”pode aparecer que não lhe pedirei aval”, e nada. Eram pessoas, ou parentes, de quem esperava mais ou, pelo menos, pensava que delas merecia mais.

Ouvi então as sábias palavras “não adianta cobrar de quem não tem para dar”. Quem me ensinava não se referia a bens materiais, mas a amizade, carinho, afeto, amor, dedicação.

“Caiu a ficha”, como dizem atualmente, e comecei então a raciocinar sobre o porque estou cobrando algo de quem não o tem para dar.

O erro foi meu, eu é que imaginei que fossem meus amigos ou verdadeiros parentes. Eu é que os supervalorizei em relação à amizade ou parentesco. Afinal, eles nunca haviam me demonstrado, em profundidade, que eram meus amigos verdadeiros, ou que simplesmente não “nasceram” meus parentes, mas que realmente o eram.

Por que esperei de quem não prometeu? Se na vida os que prometem em geral não cumprem, imagine aqueles que só são alguém em nossa mente. Nunca os havíamos testado. Era só imaginação minha, burrice mesmo.

Ao me aprofundar nesses pensamentos, percebi claramente que tinha razão quem me ensinava a “não cobrar de quem não tem para dar”, pois eu estava dando “murro em ponta de faca”, e “dessa pedra não sai água”.

É isso mesmo, são pessoas pobres, paupérrimas mesmo, de espírito e de coração, que mesmo que quisessem não poderiam me dar o que delas esperava, pois são seres vazios, sem nada para compartilhar com o próximo. São pessoas de quem só devemos nos apiedar, ter dó.

São seres humanos que não aprenderam que a única certeza desta vida é a morte, e que da vida partiremos todos em um mesmo meio de transporte, que com mais ou menos luxo nunca deixará de ser o que é, um caixão, dentro do qual não existem gavetas para que se leve as riquezas materiais ou as pobrezas de espírito e, do seu lado de fora possuem alças, para que os que se fortaleceram através das amizades e parentescos verdadeiros, nelas peguem para levar o seu ente querido.

Valorizemos os verdadeiros amigos e parentes, que dando ou compartilhando se fortaleceram, e desprezemos os pobres de espírito, que nada têm a dar ou compartilhar, pois permanecerão sempre fracos.

Os que em nossa amizade ou parentesco se fortaleceram são os que pegarão nas alças e nos levarão até a nossa última morada, pois os que nisso não se fortaleceram, mesmo querendo, não conseguirão nos levar e, portanto, nem para isso servem.
Por:João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br

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