Enredo para um livro: mulher de 60 anos, casada com um político de primeiro escalão, mantém romance secreto com jovem de 19 anos. Anteriormente, essa mulher havia se relacionado durante muito tempo com o pai do rapaz, um açougueiro alcoólatra. A senhora em questão frequenta assiduamente a igreja e emite opiniões que fariam Nélson Rodrigues corar. Costuma dizer, por exemplo, que a pedofilia é menos condenável do que o homossexualismo.
Ficção? Não, pura realidade. A notícia desse roteiro de novela mexicana veio à tona recentemente e envolve um casal de políticos da Irlanda do Norte, mas que poderia envolver qualquer politico, até mesmo nosso (a) conhecido (a). Íris Robinson, deputada, casada com o primeiro-ministro, posava para fotos que pareciam emolduradas mesmo antes de serem postas num porta-retratos. Elegantes, cultos, bem relacionados – enfim, destinados a uma longa parceria afetiva e profissional, até a notícia se espalhar pelo mundo.
Não chego a ficar espantado com o fato em si. Os dois são maiores de idade, devem ter se divertido bastante e ninguém tem nada a ver com isso. O problema é outro, creio. Quando as pessoas tentam passar uma imagem de paradigma da correção moral, de perfeição, desconfie. O que acontece na intimidade pode ser bem diverso. Sempre fico com um pé atrás em relação aos muito rígidos, que decoraram os 10 mandamentos ainda na infância e creem que seja possível colocá-los em prática sem esforço algum. O excesso de moralismo geralmente traduz uma tentativa desesperada de esconder alguma tara. Normalmente de ordem sexual. Para que isso não se torne manifesto, costumam se valer da religião como um escudo, frequentar a igreja,fazer parte de ações beneficientes da sociedade local, buscando esconder aquilo que não ousam confessar nem a si mesmos.
Claro, figuras públicas têm quase todos os seus atos rastreados, e na imaginação coletiva eles precisam corresponder àquilo que consideramos ideal. Qualquer deslize e pronto: já corremos em busca de novos modelos para admirar. É complicado estar em exposição permanente, principalmente para os que têm alguma queda por algo não tão convencional, digamos assim. Mas, tão humano, meu Deus! Somos muito complexos e transgredir é mais tentador do que seguir a norma. Principalmente para quem tem prestígio, poder ou dinheiro. Quando tem dois ou os tres, começa a viver acima do bem e do mal. O que choca em casos como esse é o jogo de hipocrisia que costuma cercá-los. A distância entre o que é e o que parecia ser.
Procuro não julgar fatos assim à luz de conceitos e preconceitos que mais dizem das deficiências do que de uma verdadeira busca das razões que os causaram. Desde que não prejudiquem os demais, ”entenda-se povo esperançoso e dependente” o que fazem em cima ou fora da cama não interessa a ninguém, senão aos envolvidos. O resto é cinismo. O melhor catecismo, portanto, é aquele que aceita o homem em suas fragilidades, cinismo, incompetência e prepotência, reconhecendo que são guiados mais pela busca do próprio prazer do que por inclinações sublimes, sociais e religiosas. Não é a ideia mais agradável para definir esta espécie, mas provavelmente é a que melhor os traduz.
Numa sociedade menos hipócrita e permissiva, essa farsa mereceria outro final. Juízes severos, não gostamos que os outros concretizem as fantasias que permeiam nossas noites. Preferimos nos crer puros, sempre mais puros que os demais.
Por: Gilmar Marcilio e adaptação da redação JBN
Ficção? Não, pura realidade. A notícia desse roteiro de novela mexicana veio à tona recentemente e envolve um casal de políticos da Irlanda do Norte, mas que poderia envolver qualquer politico, até mesmo nosso (a) conhecido (a). Íris Robinson, deputada, casada com o primeiro-ministro, posava para fotos que pareciam emolduradas mesmo antes de serem postas num porta-retratos. Elegantes, cultos, bem relacionados – enfim, destinados a uma longa parceria afetiva e profissional, até a notícia se espalhar pelo mundo.
Não chego a ficar espantado com o fato em si. Os dois são maiores de idade, devem ter se divertido bastante e ninguém tem nada a ver com isso. O problema é outro, creio. Quando as pessoas tentam passar uma imagem de paradigma da correção moral, de perfeição, desconfie. O que acontece na intimidade pode ser bem diverso. Sempre fico com um pé atrás em relação aos muito rígidos, que decoraram os 10 mandamentos ainda na infância e creem que seja possível colocá-los em prática sem esforço algum. O excesso de moralismo geralmente traduz uma tentativa desesperada de esconder alguma tara. Normalmente de ordem sexual. Para que isso não se torne manifesto, costumam se valer da religião como um escudo, frequentar a igreja,fazer parte de ações beneficientes da sociedade local, buscando esconder aquilo que não ousam confessar nem a si mesmos.
Claro, figuras públicas têm quase todos os seus atos rastreados, e na imaginação coletiva eles precisam corresponder àquilo que consideramos ideal. Qualquer deslize e pronto: já corremos em busca de novos modelos para admirar. É complicado estar em exposição permanente, principalmente para os que têm alguma queda por algo não tão convencional, digamos assim. Mas, tão humano, meu Deus! Somos muito complexos e transgredir é mais tentador do que seguir a norma. Principalmente para quem tem prestígio, poder ou dinheiro. Quando tem dois ou os tres, começa a viver acima do bem e do mal. O que choca em casos como esse é o jogo de hipocrisia que costuma cercá-los. A distância entre o que é e o que parecia ser.
Procuro não julgar fatos assim à luz de conceitos e preconceitos que mais dizem das deficiências do que de uma verdadeira busca das razões que os causaram. Desde que não prejudiquem os demais, ”entenda-se povo esperançoso e dependente” o que fazem em cima ou fora da cama não interessa a ninguém, senão aos envolvidos. O resto é cinismo. O melhor catecismo, portanto, é aquele que aceita o homem em suas fragilidades, cinismo, incompetência e prepotência, reconhecendo que são guiados mais pela busca do próprio prazer do que por inclinações sublimes, sociais e religiosas. Não é a ideia mais agradável para definir esta espécie, mas provavelmente é a que melhor os traduz.
Numa sociedade menos hipócrita e permissiva, essa farsa mereceria outro final. Juízes severos, não gostamos que os outros concretizem as fantasias que permeiam nossas noites. Preferimos nos crer puros, sempre mais puros que os demais.
Por: Gilmar Marcilio e adaptação da redação JBN
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