Existem mitos comuns em relação à sexualidade das pessoas com deficiência intelectual, um deles é de que eles são pessoas assexuadas. Essa ideia parte da noção de que a pessoa com deficiência não tem as mesmas necessidades e desejos que outras pessoas sem deficiência. Muitas vezes esquecemos que a vida sexual envolve manifestações pessoais e sociais que mudam através da história. Um grande problema é que ainda temos muita dificuldade na aceitação do sexo como atividade recreativa e, mais grave ainda, achamos que os deficientes não têm direito de usufruírem de sua sexualidade.
Outro mito é o oposto do anterior, o de considerarmos as pessoas com deficiência intelectual hipersexuadas. Esse mito se dá em função da não orientação sexual da população em geral, que tem medo de que as informações provoquem uma conduta promíscua no indivíduo. Este pensamento, muitas vezes, não deixa as pessoas sem deficiência perceberem que, na verdade, é esse isolamento de informações, essa segregação dos sexos e a ignorância da sexualidade que provoca a conduta inadequada de algumas pessoas com e sem deficiência intelectual.
Os papéis sexuais estão intimamente ligados a formação da identidade sexual e aos estímulos sociais, e é por meio dessa convivência social, pelo que vemos e ouvimos, pelas mensagens constantes que recebemos que definimos um comportamento sexual e social. Vale ressaltar que a maioria dessas mensagens são descobertas e exercitadas nas inúmeras brincadeiras realizadas no período da infância. Porém como a maioria das crianças com deficiência intelectual ainda crescem segregadas, absorvem poucas informações que são, muitas vezes, deturpadas em sua imaginação.
Outro aspecto importante é a tendência de manter a pessoa com deficiência intelectual como uma eterna criança, estimulando seu carinho para com estranhos, na tentativa de compensar a rejeição. Essas atitudes acabam por deixá-las mais vulneráveis aos abusos sexuais, distorcendo a visão de suas reais necessidades, além de alimentar sua insegurança e dependência. A insegurança e a dependência geralmente são provocadas por uma superproteção familiar que acarreta em uma retração de efeitos nefastos a socialização, comprometendo seu amadurecimento sexual. A pessoa com deficiência intelectual precisa aprender a construir suas próprias amizades desde a infância, para então mais tarde ter condições de aspirar um companheiro sexual.
Existe também a ideia de que as pessoas com deficiência intelectual são masturbadoras compulsivas. Essa ideia advém de dois fatores. O primeiro está relacionado à dificuldade que a pessoa tem de entender que, da mesma maneira que se tem um lugar específico, privado para fazer as necessidades fisiológicas, como por exemplo, urinar, também requer um lugar privado para brincar com seus genitais. O segundo se refere a fase da adolescência, na qual é comum os jovens se masturbarem em excesso, como uma atividade prazerosa. “Mas, como deficiente não tem sexo”, quando vemos esta manifestação achamos que é um compulsivo.
E, por fim, vigora o mito de que toda deficiência limita a capacidade de fazer sexo. Este pensamento é decorrente do preconceito que temos ao que se refere a aceitação das diferenças e da visão limitada do que significa fazer amor. Deficiência não é doença, mas um estado, produto de acontecimentos diversos, cujo impacto debilitante será potencializado ou diminuído conforme o posicionamento da sociedade em que se vive.
Autor:Paulo César Ribeiro Martins
Doutor em Psicologia pela PUCCAMP / Professor da UEMS/AEMS/FIPAR
Psicólogo Clínico em Três Lagoas/MS (67) 81026363/(67) 99174065
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